quarta-feira, 8 de abril de 2009

NIASSA

Em Dezembro de 2008 a Fevereiro de 2009 visitei o Niassa, a província mais extensa de Moçambique.

Por lá, as chuvas são regulares, a terra produz muita comida e recursos minerais, desde o Ouro de Lupilichi até o Rubi de Mavago. As paisagens são belas e atraentes, tipicas para um turismo de primeira categoria.

A fauna, a flora, as águas cristalinas e as praias virgens do lago e reserva do Niassa respectivamente, assim como outros recursos naturais subaproveitados fazem da província uma jóia por facetar.

Porém, “o Niassa está esquecido”, quem o diz são os Massukos, uma banda musical da casa. E, com base naquilo que se pode constatar no terreno, a opinião afigura-se certa, senão vejamos:

O desenvolvimento caminha a passos lentíssimos. As estradas, quase todas são de terra batida e esburacadas. No tempo chuvoso, a situação é pior. A chuva destrói as pontes e picadas. Poucos são os transportadores de passageiros e mercadorias que se arriscam a enfrentar o martírio de escalar Niassa.

O comboio de Cuamba (a segunda maior cidade) para Lichinga (a capital provincial) circula uma ou duas vezes por mês. Não transporta passageiros e dura mais de cinco dias, por causa dos carris tortos, num percurso de aproximadamente 300km.

As infraestruturas são de construção precária. Alguns chefes locais defendem que o dinheiro para erguer obras de qualidade é pouco. Outros denunciam a existência de crónicos esquemas de corrupção, clientelismo e uma falta águda de transparência nos concursos para construção de infraestruturas do Estado. Mas, pelo sim, ou pelo não, a verdade é uma: a situação é triste naquele lugar de Moçambique.

Quanto ao povo, os niassenses são simpáticos, trabalhadores, acolhedores, mas infelizmente continuam a dormir e a sonhar com dias melhores, enquanto se contentam com o ópio de todos os tempos: pão e circo, que o governo habilmente proporciona por via dos jogos de futebol do Moçambola aos domingos.

Em Lichinga, as ruas e avenidas confundem-se com burracos, o dia-a-dia é feito de filas enormissimas nas poucas instituições bancárias que dão na vista. Um certo banco, tão útil para as populações tem uma e única agência com duas ATMs operacionais para toda província.

Nas escolas, alunos do nível pré-universitário estudam em cubículos sem coberturas laterais, o que os submete a todos os riscos possíveis. As salas de aulas albergam mais de 90 alunos sentados no chão. Virou coisa normal ver de segunda a sexta-feira pais e filhos a transportar cadeiras de casa para escola e vice-versa. Aliás Niassa não tem sequer uma escola secundária de raíz, o que pulula por ali são simples conjuntos de salas de aulas improvisadas, visto que o dinheiro para tal, passa para o bando de abutres e corruptos que controlam os cenários no local.
Falta água canalizada, faltam transportes públicos, faltam serviços básicos, além dos preços e o custo de vida elevadíssimos, na capital e em toda província. Porém, os dirigentes políticos insistem que a província está a desenvolver. Ora, tenham peso na consciência!

Entenda-se o seguinte: entre muitas coisas, Niassa vai desenvolver quando em primeiro lugar as vias de comunicação estiverem acessíveis. É urgente a asfaltagem da estrada que liga Nampula e Lichinga é também necessário que a linha fêrrea que une as duas principais cidades esteja operacional.

O crescimento económico da província está também dependente do tipo de dirigentes que norteiam os seus destinos. Faltam dirigentes sérios, com vontade e visão de desenvolvimento, muito diferente da visão destes últimos cujo mandato está terminar.

Nos últimos cinco anos a província teve a pouca sorte de ser dirigida por pessoas “incapazes”. Esses dirigentes, no auge da sua mediocridade tiveram a coragem de devolver fundos aos doadores alegando não haver áreas de aplicação. Esse tipo de governantes deveriam ser escoraçados logo.

Niassa precisa sair da letargia em que se encontra. Para tal é preciso muita seriedade e um trabalho árduo de todos nós. Os dirigentes não devem olhar as províncias como fonte de produção de riqueza pessoal, muito menos para acomodar interresses de conterrâneos, amigos de infância e fomentar o tribalismo segundo denunciaram em 2008 os professores doutores Brazão Mazula e Carlos Machili respectivamente.

3 comentários:

  1. Bravo! Um discriçao bem conseguida.

    De facto Niassa, e não, so precisa de sair da letargia em que esta mergulhada. Eh necessario uma educação mental nesses tais dito dirigentes que de diregentes não tem nada, apenas são um bando de corruptos ignorantes.

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  2. No tempo colonial, dizia-se que Moçambique era Lourenço Marques e que o resto, era paisagem!
    Hoje, Maputo converteu-se na capital dos poderosos. Também aqui, como sabe, os cidadãos poderiam ser estratificados em categorias. O fosso entre ricos e pobres não pára de aumentar.
    O desenvolvimento assimétrico é um problema velho mas, a desculpabilização com a presença colonial, é um argumento estafado.
    É preciso, como diz, olhar para o País como um todo e optar-se politicas conducentes ao progresso e justiça social
    A sua visita foi o pretexto para eu descobrir mais um blogue de Moçambique. Obrigado por isso
    Quando ao Vasco da Gama, ele não tem rigorosamente nada a ver com o blogue. Pelo contrário
    Onde leu Solitário, está escrito Solidário, como pode confirmar

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  3. Hmmm, benvindo ao mundo blogger e obrigada por me fazer conhecer Niassa. Ceus, precisa-se acelerar o passo nessa terra distante

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