sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Por quê lutaram os nossos pais?

Por estas alturas no ano passado, alguns dias depois de deixar bem claro que os seus pares têm o pleno direito de ficar ricos porque lutaram para tal, um “ilustre” combatente, bem no púlpito de um palanque, algures na cidade da Beira, eufórico e visivelmente inebriado pelas ovações e honrarias hipócritas dos convivas, quais lambe botas do caraças, cantou nos seguintes termos: “daqui não saio, daqui ninguém me tira...”

-É um canto do cisne! – Disseram na altura alguns sectores da opinião pública.
-São simples manias de um velho lobo-do-mar! – Concluíram outros, inclusive aqueles que tínhamos como os mais lúcidos e com visão para ler cenários políticos da praça. Dito sem metáforas, muitos não perceberam ou simplesmente ignoraram as entrelinhas da canção. Mas, lembrem-se meus bons conterrâneos: nada vem ao acaso!

Anunciou-se há dias o vencedor do concurso para a escolha da terceira operadora de telefonia móvel. Como todos sabem, ganhou a Movitel, um casamento entre a Vietel do Vietname e a SPI, ligada ao partido Frelimo. Desde já, vários sectores de opinião reagiram questionando a transparência e os moldes que nortearam a escolha. De forma profunda e exaustiva, o jornal SAVANA de hoje, 12.11.10, escreve que “a Movitel e a Uni-Telecomicações, disputavam renhidamente o concurso, mas apesar de ter colocado por cima da mesa o valor mais alto a pagar pela licença de exploração, a aliança Unitel e Insitec, perdeu na conjugação da proposta técnica e financeira”.

Adiante, o semanário refere que “a empresa vencedora, apresentou uma proposta financeira de 28. 2 Milhões de dólares, contra 32 milhões da Uni Telecomunicações e 25 milhões da TMM. Na análise da proposta técnica, a Movitel obteve a classificação mais alta, 95.05 pontos contra 77.843 da TMM e 76.783 referentes a Uni-Telecomunicações. Na conjugação das componentes técnica e financeira, a Movitel foi declarada vencedora”. Segundo o regulamento do concurso, a proposta técnica tem um peso de 70% contra 30% da financeira. Chamado a reagir, o PCA do Instituto Nacional de Comunicações, afirmou concorrer a favor da Movitel, o facto desta se propor a expandir pelo país em curto espaço de tempo.

SPI
Criada em Dezembro de 1992, SPI é uma holding do partido no poder. Nos últimos dias não pára de ampliar os seus negócios. Além dos 35% de acções na Kudumba, firma tristemente famosa pela gestão dos polémicos scanners de inspecção não intrusiva, a SPI tem também participações financeiras no Casino Polana, CDM, Salvór Hotéis Moçambique, Celmoque, Forris Telecom Moçambique e Tubex (vide na integra o SAVANA de 12.11.10, pag, 2).

Consta igualmente que possui investimentos na futura fábrica de cimentos de Salamanga, em projectos imobiário-turísticos na praia do Bilene, em Gaza, Multicomplexo Tchumene na Matola e empreendimentos turísticos em Tete. A holding, está também no Terminal de Petróleos da Matola e anda associada aos chineses do Fundo Internacional da China, etc, etc e etc.

Pois é! Este é o nosso modus vivend. Eis o país das cunhas, das alianças nepotistas e do salve-se quem puder, Deus para os vermelhos. Um país à mercê de máfias sem escrúpulos e incapaz de se levantar com os seus próprios pés. Um país gerido por políticos de muito mau gosto, hábeis em embalar as massas com mentiras e hipócritas atitudes de seriedade, proferidas em discursos repetitivos, sempre a prometer o bem-estar, quando na verdade a roda já foi inventada: nada de concreto para o povo sofredor, senão falsas promessas!

Gostava de vos cantar, homens e mulheres do meu país, mas só vos posso chorar por não nascerdes de novo. Só vos posso chorar por continuardes letárgicos perante tanta patranha. Só vos posso chorar ao saber que temeis a mudança. É uma pena morrer à fome, quando tendes 36 milhões de hectares de terra arável, prontos para produzirem comida que baste. Como dói vê-los formatados, sem consciência crítica, alienados por futebóis faz-de-conta e novelas anestesiantes que os tornam eternos pagantes de impostos e simples bestas de carga! Por quê lutaram os nossos pais?