quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Os nepotistas…

Há um tempo quando escrevi sobre a incessante institucionalização do nepotismo nas organizações públicas e privadas do nosso país, muitos conterrâneos nacionais abordaram-me procurando saber sobre o significado da palavra.

Para satisfazer a eles e quiçá a outros com interesse no assunto, saibam que: morfologicamente, a palavra híbrida nepotismo é formada pelo radical nepote (do latim népos/nipote/nepõtes, que significa sobrinho/neto/descendente) e pelo sufixo nominal: "ismo" (do grego ismós, que significa "prática de").

Fontes clássicas indicam que a palavra nepotismo provém do baixo-latim eclesiástico: nepote, que significaria sobrinho do Papa. Deste modo, nepotismo significa a prática adoptada pelos Papas dos séculos XV e XVI em favorecer, sistematicamente, suas famílias com títulos e doações.
Contemporaneamente, o nepotismo é o hábito de favorecer alguém preferido pelos que detêm o poder. O Dicionário Michaelis, procurando incrementar o significado da palavra, indica, por extensão voluntária, que nepotismo é o "favoritismo de certos governantes aos seus parentes e familiares, facilitando-lhes a ascensão social, independentemente de suas aptidões. Portanto as pessoas que cultivam esse comportamento podem ser consideradas os nepotistas…

Note-se que, este pendor vem desde o século XV, inicialmente protagonizado pelos Papas, os mesmos que se presume serem indivíduos mais próximos de Deus (conforme nos ensina a Igreja Católica Romana) e confrades do seu filho, Jesus. Facto que, segundo a minha opinião, devia fazer-lhes agir com justiça e igualdade, pois que, tanto Deus como Jesus (segundo eles mesmos) são bons e jamais mensurariam as pessoas com base em graus de parentesco!

Como ficou acentuado na última abordagem sobre o assunto, cá entre nós, essa propensão tem logrado sucessos graças a insensatez dos nossos dirigentes e alguns “chefesitos” que ao sabor da sua obstinação passam por cima dos concursos públicos, empregam parentes e distribuem cargos de confiança a esposas, filhos, primos, cunhados e toda índole de afins que recolhem por aí.

Um dia desses um amigo dizia estar seguro de que seria aceite numa empresa porque, além de reunir os predicados exigidos, a entrevista tinha sido conduzida por um indivíduo de raça branca e estrangeiro. Dito e feito, dois dias depois, o mesmo foi contratado. A seguir ligou-me para provar a sua presciência e acrescentar que, aquele lugar não seria seu, se fosse entrevistado por um compatriota. Vejam senhores e senhoras a que ponto a situação chegou!? Será que temos que chamar gente de fora, até para ensinarem-nos a fazer entrevistas de emprego?!

Por exemplo, nos últimos dias há uma série de monitorias com vista a cobertura das eleições. Nisso, há indicações de que o grosso modo delas são feitas por clubes de amigos amadores e incompetentes que, daqui a um ou dois meses, em forma de resultados das mesmas, virão a público de boca cheia e a repetir até à náusea, o mesmo lugar comum de sempre: a Frelimo usou meios do Estado para a campanha eleitoral e que os órgãos de comunicação social públicos fizeram uma cobertura parcial, mesmo que isso não seja verdade, contanto que deleite os patrões das tais pseudo-pesquisas. Onde é que vamos parar a esse nível?

Por outro lado, um relatório recentemente publicado pelo Mecanismo Africano de Revisão de Pares (MARP), em Maputo, concluiu que a filiação partidária, o nepotismo e o amiguismo predominam como critérios de recrutamento para a função pública. Estima-se que o número de funcionários do Estado recrutados com base no mérito profissional se situe em apenas 13 porcento.

Que verecúndia! Mas nem tudo está mal, porque felizmente esses factos põem a nu a crescente hipocrisia “euforisada” nos discursos efusivamente proferidos em prol da unidade nacional e de igualdade de direitos e oportunidades para todos. Fiquem de olhos compatriotas, há nepotismos crassos em tudo quanto é canto no país, sendo talvez por isso que, as nossas instituições carecem de porte suficiente para gozar de alguma credibilidade, aqui e além fronteiras.

PS. Rui Lamarques acabou de criar um novo blog. O mesmo chama-se “A putanizacao da nossa espécie”. Portanto é uma referência certa para aqueles que gostam de percorrer escritos feitos com um alto grau de lucidez. Sendo assim convido-lhe a espreitar a nova janela e faça-o com gosto e como quem mastiga, asseguro que não irá se arrepender…
Eis aí o site:
http://frontalidade-xigono.blogspot.com/