domingo, 11 de setembro de 2011

“Esta terra ainda vai cumprir seu ideal”

Por Beluce Bellucci
A manchete do primeiro caderno da Folha de S. Paulo de 14/08/2011 “Moçambique  oferece ao Brasil área de 3 Sergipes”, para o plantio de soja, algodão e milho a agricultores brasileiros com experiência no cerrado, parece trazer uma grande novidade e oportunidade aos capitais e empreendedores brasílicos. A longa matéria no caderno de economia expõe que estas terras estão localizadas nas províncias de Nampula, Niassa, Cabo Delgado e Zambézia, situadas ao norte daquele país. No mesmo artigo, um consultor indaga, arrogante e desrespeitosamente, “Quem vai tomar conta da África? Chinês, europeu ou americano? O brasileiro que tem conhecimento do cerrado”, responde ele apressadamente. A intenção explicita de colonização nesta passagem não foi contestada pelo jornal ao longo do artigo.

Pela matéria, fazendeiros brasileiros afoitos descobrem que em Moçambique existe “um Mato Grosso” inteiro para ser produzido, e 40 deles (não haverá um Ali?) se “apressam” a no próximo mês visitarem o país. O ministro da agricultura moçambicano revela que as terras poderão ser cedidas por 50 anos, renováveis por mais 50, ao preço módico de R$27,00 por hectare/ano.

Cabe inicialmente perguntar: será esse negócio uma grande novidade? e trará tanta oportunidade quanto a noticia faz parecer? O desconhecimento dos brasileiros que procuram o empreendimento reflete o desconhecimento histórico que o Brasil tem da África e faz jus ao conhecimento dos que a divulgam. Não compete encontrar aqui as razões por que “tão boa oferta” somente agora chega ao Brasil nem tão pouco saber quem está por trás desse affaire. Interesses seguramente devem existir dos dois lados, o africano e o brasileiro.

Mas a quem pode NÃO interessar esse projeto?
A região em questão possui vegetação diversa onde vivem cerca de 12 milhões de pessoas organizadas em sociedades com histórias, línguas, culturas e formação social próprias. Estão lá os  macuas, os macondes, os nyanjas, os chuabos e outros. Foi o principal palco da guerra de libertação nacional de 1964 a 1975, e nos anos 80 da guerra de desestabilização levada a cabo pela África do Sul e pela Renamo.

É uma população de resistência e luta. E o que dizem do modelo desse projeto? Que impacto terá sobre essa população? O que pensam outras instituições locais? Quem efetivamente ganha e quem perde produzindo nesse modelo na região? Não falemos em aumento de PIB ou da exportação, mas em nível de vida, em ganhos palpáveis, matérias e imaterias da população. A experiência que os fazendeiros brasileiros dizem ter no cerrado, e o jornal repete, é de produção técnica, não de relações sociais de produção. Ela não inclui a experiência no trato com as sociedades africanas, aliás, neste quesito perdemos para todos os outros concorrentes.

O brasileiro não conhece e quase não sabe andar na África, pouco se interessou pelo continente, seguramente pelo complexo de culpa da escravidão. Foi preciso uma lei,  a no. 10.639 de 9/2/2003, para introduzir essa temática nas escolas brasileiras. Só recentemente expandiu suas representações diplomáticas e vem ampliando a cooperação e presença, pese a demanda, interesse e simpatia que os africanos dirigiam ao nosso país. Mas enquanto ficamos ao longo do último século com retórica e boas intenções face aos africanos, pouco fizemos e conhecemos.

Em três décadas de presença na África os chineses se tornaram os maiores parceiros do continente. Antes dos fazendeiros e homens de negócios estiveram os estudiosos, os diplomatas, os estrategistas. Desenvolveram planos de longo prazo e não chamaram as regiões de Shanxi ou de Sergipe. Conheceram a história e respeitaram a soberania dos Estados e seus povos. Muito pode-se criticar sobre a presença chinesa na África, menos que seja aventureira.

A “novidade”
Todos afirmam que a África é hoje um continente subdesenvolvido, isto é, com carências alimentares, na habitação, na saúde, na educação, na capacidade produtiva, mas por quê? Como chegou a se subdesenvolver? Deixemos de lado o tráfico de escravos que mutilou sociedades por mais de três séculos (período que a força de trabalho africana era arrastada a produzir nas fazendas brasileiras – possivelmente em terras dos antepassados dos 40 fazendeiros) e nos aproximemos do século 20.

O que fizeram os europeus, franceses, ingleses, portugueses e belgas na África? O que foi e como foi o  colonialismo africano senão um fenômeno do século 20? Não foram lá essas metrópoles para civilizar e levar deus aos africanos? Não foram lá levar a civilização e ensinar-lhes como e o que produzir e consumir? E muito produziram...

Mas como fizeram?
A colonização levada a cabo pelas potências foram entregues a companhias concessionárias (majestáticas ou à charte na França), que recebiam grandes concessões de terra em troca de pagamento de taxas ao estado colonial, na obrigação de produzirem, e para tal podiam explorar e gerir as populações residentes. Umas desenvolveram a agricultura de exportação (para as metrópoles que viviam a revolução industrial), e até integraram regiões com estradas e ferrovias para escoamento. Outras dedicaram-se à exportação de trabalhadores para as minas dos países vizinhos (caso da Companhia do Niassa).

Muito se produziu e se exportou. Criaram-se fortunas com o amendoim, o copra, o algodão, o sisal, o café, o tabaco, a madeira... E onde estão estas riquezas? Nos palácios, estradas e infraestruturas africanas? No sistema de educação, saúde e no nível de alimentação da população negra? O povo africano trabalhou nesse século sob a batuta colonial. Produziu muito no sistema de concessão que agora se quer renovar, e foi esse modelo o que subdesenvolveu a África, trazendo para os africanos a miséria que vivem hoje. E é esse o modelo que agora se quer repetir. Antes dele os povos estavam em melhor situação que após.

Não são as terras fartas que chamam a atenção dos nossos fazendeiros, mas a existência de uma mão de obra que pode trabalhar a baixíssimos salários. Isso porque ela tem acesso à terra, já que boa parte da terra ainda é comunitária, e garante a própria subsistência. Enquanto esses homens trabalham nas fazendas, suas famílias produzem nas roças tradicionais. E, tendo a subsistência garantida, são impelidos ao trabalho quase gratuito, muitas vezes à força como demonstra a história, nas áreas dos fazendeiros brancos. Ao final do processo produtivo, a exportação, o PIB, os bolsos de poucos políticos e empresários nacionais envolvidos poderão crescer, mas a população continuará vivendo basicamente das suas subsistências e cada vez mais dependente de uma sociedade que a vem dominando culturalmente, através do radio e da TV, com canais globais e religiosos universais, cada vez mais produzidos aqui mesmo na tropicália.  O contexto para um novo colonialismo está preparado, e a sua repetição transformará o que foi o drama colonial numa farsa liberal.

Na versão colonial do século 20 as sociedades africanas encontravam-se ainda estabelecidas e foram fortemente exploradas nessa articulação com o capitalismo colonial, que a reduziram à pobreza atual. Hoje elas encontram-se fragilizadas, desconfiadas, famintas, e reeditar tal sistema com promessas e perspectivas de que irão melhorar é uma mentira criminosa. Convém observar que a mudança desse modelo de exploração para o modelo desenvolvimentista, industrializante, com início no pós Segunda Guerra facilitou as propostas nacionalistas que culminaram com as independências das colônias na década de 60. Mas este assunto merece outro artigo.

O risco
Dizem que as terras em Moçambique estão ociosas. Na verdade, estão ocupadas há séculos por populações que a cultivam com tecnologias específicas, para a sobrevivência, num sistema que exige grande reserva natural e rotação. Quando os portugueses chegaram no continente encontraram homens e mulheres saudáveis e fortes. Não eram povos subnutridos nem subdesenvolvidos, mas populações com níveis tecnológicos distintos dos colonizadores. Passados o tráfico e o colonialismo, o que restou foram populações desagregadas, famintas, subdesenvolvidas, fruto das políticas produtivistas de quem “tomou conta da região”.

O que nós brasileiros queremos com a África? Mandar para lá fazendeiros para remontarem um sistema já conhecido historicamente e vencido socialmente, que produz e reproduz miséria para a grande maioria e lucro para poucos? Ou temos a intenção e alguma expectativa de estabelecer uma relação de cooperação que aponte para uma sociedade onde a vida das pessoas se transformem e melhorem?

O embaixador moçambicano em Brasília diz que “interessa-nos ter brasileiros em Moçambique produzindo, porque temos grande deficit de alimentos”, e o projeto prevê  que será preciso empregar 90% de mão de obra moçambicana. A oferta é para produzir algodão, soja e milho, entre outros, visando a exportação.

Sendo o milho o único atualmente utilizado para alimento humano. A Embrapa prepara as sementes com investimentos do Estado brasileiro, e o presidente da Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão diz que “Moçambique é um Mato Grosso no meio da África, com terra de graça, sem tanto impedimento ambiental e frete mais barato para a China”.

O chefe da Secretaria de Relações Internacionais da Embrapa diz: “Nessa região, metade da área é povoada por pequenos agricultores, mas a outra metade é despovoada, como existia no oeste da Bahia e em Mato Grosso nos anos 80.” O projeto oferece também isenção para a importação de equipamentos. O que pretende este programa é aproveitar as terras moçambicanas, “de graça”, produzir para exportação, aproveitando-se da mão de obra barata, e a ausência de regulamentação ambiental e sindical.

Entretanto, sabe-se já de início,  os projetos são de capital intensivo e grande tecnologia, e vão utilizar pouca mão de obra. Os produtos não serão consumidos no país e a renda interna proveniente será a modesta soma de alguns meticais por ano, que ficará com a instituições estatais. Moçambique não é a Bahia, pois a África não é o Brasil. Mas o “Havaí é aqui” e lá. Como se observa, são projetos que podem ser viáveis economicamente, mas não são  sustentáveis do ponto de vista ecológico e muito menos social.

Ao se concretizar a proposta em análise, faremos com que o aprofundamento da relação com a África, tão querida quanto necessária, se dê por um empreendimento tipo colonial comandado  por fazendeiros (e jagunços) e com a benção dos estados. Por desconhecimento da história, despreparo dos envolvidos, falta de objetivos estratégicos, estrutura e planejamento do empreendimento, incluído aí o nosso Estado (pese os avanços recentes), a aventura brasileira na África, nos moldes apresentado, tem muita chance de se dedicar a ir descobrir a roda no cerrado e cair no ridículo, perder dinheiro e criar  novos personagens conradianos.

Mas, se der certo, dará razão a uma anterior parceria entre Brasil e Moçambique, a de Chico e Rui Guerra, por demais conhecida: “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um império colonial (...), um imenso Portugal.” Entretanto, um outro modelo de cooperação e investimento entre Brasil e o continente africano é possível e urgente de ser pensado.

Mas temos que nos preparar internamente para isso, num escopo do que queremos para o nosso povo e das  relações entre países. É momento de governo, Estado, universidades, empresários, instituições públicas e privadas, como o Instituto Lula, opinarem sobre um novo modelo de parceria entre Brasil e a África, que envolvesse diferentes agentes brasileiros e africanos, inclusive os fazendeiros do cerrado, para encontrar outro ideal a ser cumprido.


*Beluce Bellucci, economista, doutor em história econômica pela USP. Trabalhou mais de 12 anos em Moçambique, onde coordenou projetos agro-industriais na região de Niassa, Cabo Delgado e Nampula, após a independência em 1975, no ministério da Agricultura e no Banco de Desenvolvimento. Foi diretor do Centro de Estudos Afro-Asiáticos da Universidade Candido Mendes, Rio de Janeiro.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O que a Comunicação Social não vai mostrar nem dizer:

I - SEJA KADDAFI O BIZARRO QUE FOR, A ONU CONSTATOU EM 2007 QUE A LÍBIA TINHA:
1 - Maior Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África (até hoje é maior que o do Brasil);
2 - Ensino gratuito até à Universidade;
3 - 10% dos alunos universitários estudavam na Europa, EUA, tudo pago;
4 - Ao casar, o casal recebia até 50.000 US$ para montar casa;
5 - Sistema médico gratuito, rivalizando com os europeus. Equipamentos de última geração, etc...;
6 - Empréstimos pelo banco estatal sem juros;
7 - Inaugurado em 2007, o maior sistema de irrigação do mundo, vem tornando o deserto (95% da Líbia) em fazendas produtoras de alimentos.;
II - PORQUE "DETONAR" A LÍBIA ENTÃO?....
Três principais motivos:
1 - Tomar o seu petróleo de boa qualidade e com volume superior a 45 bilhões de barris em reservas;
2 - Fazer com que todo o mar Mediterrâneo fique sob o controlo da OTAN. Só falta agora a Síria;

3 - E provavelmente o principal:
- O Banco Central Líbio não é atrelado ao sistema financeiro mundial.
- As suas reservas são toneladas de ouro, que dão respaldo ao valor da moeda, o dinar, que desta forma está resguardado das flutuações do dólar.
- O sistema financeiro internacional ficou possesso com Kaddafi, após ele propor, e quase conseguir, que os países africanos formassem uma moeda única desligada do dólar.

III - O QUE É O ATAQUE HUMANITÁRIO PARA LIVRAR O POVO LÍBIO:
1 - A OTAN comandada, como se sabe, pelos EUA, já bombardearam as principais cidades Líbias com milhares de bombas e mísseis em que um único projéctil é capaz de destruir um quarteirão inteiro. Os prédios e infra estruturas de água, esgotos, gás e luz estão sèriamente danificados;
2 - As bombas usadas conteem DU (Uranio depletado) que tem um tempo de vida de cerca de 3 bilhões de anos (causa cancro e deformações genéticas);
3 - Metade das crianças líbias estão traumatizadas psicologicamente por causa das explosões que parecem um terramoto e racham as estruturas das casas;
4 - Com o bloqueio marítimo e aéreo da OTAN, as crianças sofrem principalmente com a falta de medicamentos e alimentos;
5 - A água já não mais é potável em boa parte do país. De novo as crianças são as mais atingidas;
6 - Cerca de 150.000 pessoas por dia, estão deixando o país através das fronteiras com a Tunísia e o Egito. Vão para o deserto ao relento, sem água nem comida;
7 - Se o bombardeio terminasse hoje, cerca de 4 milhões de pessoas estariam precisando de ajuda humanitária para sobreviver: Água e comida.
De uma população de 6,5 milhões de pessoas.
Em suma: O bombardeio "humanitário", acabou com a nação líbia. Nunca mais haverá a "nação" Líbia tal como ela existia.
Retirado do mural de Facebook de Will do Rosário

A morte de Bin Laden, por Leonardo Boff

Alguém precisa ser inimigo de si mesmo e contrário aos valores humanitários mínimos se aprovasse o nefasto crime do terrorismo da Al Qaeda do 11 de novembro de 2001 em Nova Iorque. Mas é por todos os títulos inaceitável que um Estado, militarmente o mais poderoso do mundo, para responder ao terrorismo se tenha transformado ele mesmo num Estado terrorista. Foi o que fez Bush, limitando a democracia e suspendendo a vigência incondicional de alguns direitos, que eram apanágio do pais... continuar aqui

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A morte de Bin Laden, por Jeremias Langa

Bin Laden morreu, mas o terrorismo não. Para a infelicidade do mundo, o terror de inspiração islâmica não se foi com o seu mentor. Continua uma ameaça real. Bin Laden era sobretudo um inspirador de muitos grupos de fanáticos. Continue aqui

O mundo está mais seguro sem Bin Laden

-Thomas Neids, secretário de Estado-adjunto dos EUA. Leia mais aqui

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Cesta básica? Não, obrigado!

Macacos me mordam se isto não for verdade! Ao contário do que o governo diz, a cesta básica não foi criada para conter o custo de vida na população mais vulnerável das cidades do país. Trata-se de uma conversa fiada para boi dormir ou mais um número deste circo para entreter as massas e impedi-las de se  manifestarem violenta ou pacificamente em prol do seu bem-estar, um direito fundamental e de cumprimento obrigatório por qualquer Estado, à luz do contrato social.
Na verdade, uma vez mais os dirigentes deste país estão aproveitar-se do exacerbado e secular infantilismo político e de cidadania, que impede os moçambicanos de fazer valer os seus interesses. A população, por sua vez,  levada a pensar que não é capaz de andar  com os próprios pés, deixa-se iludir, quais cegos guiados por outros cegos. Ora, um dos indícios de que estamos perante uma decisão demente e não aplicável, são as sucessivas controvérsias e dúvidas, que pairam sempre que um curioso e histrionico do governo vem à público falar sobre o assunto.
Depois da revisão do escalão da categoria salarial dos trabalhadores elegíveis para beneficiar da cesta básica, dos 2000 mil meticais para 2500, dos questionamentos da Central Sindical (OTM-CS) sobre a base a ser encontrada pelo governo para que a partir do segundo semestre deste ano as pessoas comecem a beneficiar da “bendita cesta”  e depois das tentativas incoerentes de esclarecimentos que são dadas pelo governo, o grupo dos que consideram que o executivo ainda não está preparado para apresentar medidas eficazes e claras para conter o custo de vida, aumentou.

Parece que o nível de desespero e receio por represálias populares à semelhança do que acontece hoje em todo mundo, obriga o governo adoptar até medidas banais para tentar tapar o sol com a peneira. Mas, sublinhe-se que quer a cesta básica, como as outras estão longe de ser  aplicáveis e possuem pouca probabilidade de eficácia. Sem dúvidas, que o governo deveria dinamizar mais as áreas produtivas. Só com o crescimento da produção e produtividade a todos os sectores, iremos ter alimentos para acabar com a fome e a pobreza no país.

Caso não e em piores hipóteses, ajudaria uma definição dos alvos para esses subsídios, nomeadamente, grupos de rendimento e grupos flexíveis, em função do que acontece ao nível dos preços internacionais. Mas, parece não ser igualmente viável para um país como o nosso, onde a pobreza chega a atingir as raias do dramático. CHOREMOS!

Cadeiras do Estádio Nacional

Olá Julia
Bom dia, minha boa amiga. Como vais tu e a tua família? Espero que bem. Do meu lado tudo bem. Embora se possa pensar que o tema não é próprio, numa carta de um cavalheiro a uma senhora, hoje venho falar-te de rabos. Sim, de rabos, seus tamanhos, volumes e pesos.
E tudo isto na base da recente inauguração do Estádio Nacional do Zimpeto. Sobre a pompa e circunstância já outros falaram. Eu volto à questão dos rabos. Segundo li na imprensa, nesta inauguração, mais de uma centena de cadeiras foi partida. Cerca de sessenta das quais na zona VIP.
Ora eu vi fotos das tais cadeiras partidas e, dessas fotos, me parece claro que o problema que existe é a falta de qualidade daquelas cadeiras, presas ao cimento da bancada por uns parafusos de muito duvidosa resistência.
Vais-me perguntar: o que é que isso tem a ver com rabos? E eu respondo-te. Tem tudo. Muito provavelmente aquelas cadeiras, e o seu sistema de fixação, estão preparadas e têm resistência calculada para rabos chineses, pequenos e magrinhos. Para esses, muito provavelmente, elas funcionam bem.
Agora quando elas são sujeitas a suportar os rabos, bem maiores e mais pesados, dos nossos concidadãos, a estrutura já não aguenta, o metal cede e as cadeiras partem. E repara, Júlia, que, das cerca de cem cadeiras  que se partiram, cerca de sessenta foram na zona VIP.
Onde é que tu achas que os rabos são maiores, e mais pesados, senão na zona VIP? Ao princípio tentou-se atribuir as culpas a actos de vandalismo por parte dos espectadores mas será, Júlia, que a principal percentagem de vândalos está nos espectadores VIP? Ao que parece a empresa chinesa de construção comprometeu-se a substituir as cadeiras partidas. Mas eu pergunto: sendo o problema estrutural e não daquelas cem cadeiras em particular, será que a empresa chinesa vai substituir as 42 mil cadeiras ou, pelo menos, todo o sistema de fixação das cadeiras ao cimento, em todo o estádio?
Se o fizer temos obras para muito mais tempo. E para muito mais dinheiro esbanjado. Se não o fizer iremos ficar, gradualmente, sem cadeiras de plástico e com bancadas apenas de cimento, como em todos os outros estádios do país.
De qualquer forma creio que, antes de fazer as reformas, a empresa chinesa faça um estudo profundo sobre os tamanhos e pesos dos rabos moçambicanos. Com análise de casos concretos quer dos cidadãos comuns, quer de alguns rabos VIP, devidamente seleccionados.
Mas as coisas não parecem ficar por aqui. Pessoa que assistiu à inauguração diz-me que são já visíveis rachas no cimento em várias partes do estádio. E há que não esquecer alguns antecedentes. Lembras-te que no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, no Ministério dos Negócios Estrangeiros e no novo Aeroporto de Maputo há duas coisas em comum: terem sido construídos por empresas chinesas e, em todos eles, chover lá dentro.
 O argumento para continuar a usar essas empresas é que trabalham barato e a crédito, mas costuma-se dizer que o barato sai caro e, neste caso das cadeiras, estou com curiosidade de saber qual vai ser o aumento na conta que teremos que pagar.
 Enfim, são os chamados “negócios da China”. Um beijo para ti do
 Escrito por Machado da Graça


sexta-feira, 29 de abril de 2011

“Santo, súbito”?!

Roma prepara-se para beatificar o papa João Paulo II, na sequência da cerimónia a acontecer este domingo no vaticano, tenho o prazer de partilhar este texto, que não é da minha autoria, mas é próprio para um bom debate sobre a beatificação daquele que é tido como um dos papas mais humano dos últimos anos.

Ainda em vida, o papa João Paulo II tudo fez para ser aclamado/idolatrado pelas multidões do mundo. Ao contrário de Jesus de Nazaré que, quando as multidões queriam aclamá-lo rei, sempre se furtou a esse tipo de messianismo idolátrico. E quando, por ocasião da sua entrada profética em Jerusalém, não teve mais como evitá-lo, foi para daí a dias ser preso pelas autoridades, julgado, condenado à morte e executado na cruz como maldito, não como santo. Até os dias da sua agonia e os do seu funeral, tão mediatizados, o Papa João Paulo II cuidou antecipadamente que fos-sem os da sua entronização definitiva como santo. E assim se fez. Pensam que foi espontâneo aquele grito das multidões presentes no funeral, "Santo, subito"? Tudo foi programado ao pormenor.

Como também foi programado que o seu sucessor haveria de ser o cardeal Ratzinger, o seu braço direito e o seu cúmplice na perseguição a reconhecidos teólogos da libertação, defensores da eclesiologia de comunhão que o Concílio Vaticano II consagrou e que a Cúria Romana não pode sequer ouvir falar. Saibam que a Cúria do Vaticano não brinca em serviço. Todo aquele fausto, mesmo litúrgico, em que é perita, é imperial, não é jesuânico; tem tudo a ver com o Deus do antigo Império Romano, e nada a ver com o Deus de Jesus de Nazaré, o Crucificado pelo Templo e pelo Império coligados.

Ora, como os favores com favores se pagam, o papa Bento XVI/Ratzinger, só podia assumir, como um dos seus primeiros actos oficiais, a abertura oficial, em 28 de Junho 2005, da causa de beatificação de João Paulo II. E até já se fala num milagre operado numa freira, conseguido pela oração/cunha de outras freiras. Fica tudo em família. Deste modo, os negócios da Cúria Romana podem prosseguir sem percalços, porque um papa feito santo enquanto o Diabo esfrega um olho, dá milhões aos cofres do Vaticano e, sobretudo, dá um prestígio do caraças.

Por outro lado,se o papa João Paulo II é assim canonizado sem mais, então também são canonizadas com ele as notórias posiões anti-jesuânicas dele contra a Teologia da Libertação, contra a eclesiologia de comunhão, contra a ordenação de mulheres, contra o celibato opcional dos padres, contra o uso responsável do preservativo, e contra as pessoas homossexuais e lésbicas. E ainda muitas outras acções criminosas, realizadas duran-te os largos anos do seu pontificado e com a sua bênção papal: "O Vaticano vendeu armas, financiou ditaduras, golpes de Estado, ocorreram falências financeiras e bancárias e por causa delas muitas pessoas «se suicidaram», além de ter ordenado operações encobertas do serviço de espionagem pontifício." (cf.E.Frattini, A santa aliança. Cinco séculos de espionagem do Vaticano, Campo das Letras, 2005)