sexta-feira, 29 de abril de 2011

“Santo, súbito”?!

Roma prepara-se para beatificar o papa João Paulo II, na sequência da cerimónia a acontecer este domingo no vaticano, tenho o prazer de partilhar este texto, que não é da minha autoria, mas é próprio para um bom debate sobre a beatificação daquele que é tido como um dos papas mais humano dos últimos anos.

Ainda em vida, o papa João Paulo II tudo fez para ser aclamado/idolatrado pelas multidões do mundo. Ao contrário de Jesus de Nazaré que, quando as multidões queriam aclamá-lo rei, sempre se furtou a esse tipo de messianismo idolátrico. E quando, por ocasião da sua entrada profética em Jerusalém, não teve mais como evitá-lo, foi para daí a dias ser preso pelas autoridades, julgado, condenado à morte e executado na cruz como maldito, não como santo. Até os dias da sua agonia e os do seu funeral, tão mediatizados, o Papa João Paulo II cuidou antecipadamente que fos-sem os da sua entronização definitiva como santo. E assim se fez. Pensam que foi espontâneo aquele grito das multidões presentes no funeral, "Santo, subito"? Tudo foi programado ao pormenor.

Como também foi programado que o seu sucessor haveria de ser o cardeal Ratzinger, o seu braço direito e o seu cúmplice na perseguição a reconhecidos teólogos da libertação, defensores da eclesiologia de comunhão que o Concílio Vaticano II consagrou e que a Cúria Romana não pode sequer ouvir falar. Saibam que a Cúria do Vaticano não brinca em serviço. Todo aquele fausto, mesmo litúrgico, em que é perita, é imperial, não é jesuânico; tem tudo a ver com o Deus do antigo Império Romano, e nada a ver com o Deus de Jesus de Nazaré, o Crucificado pelo Templo e pelo Império coligados.

Ora, como os favores com favores se pagam, o papa Bento XVI/Ratzinger, só podia assumir, como um dos seus primeiros actos oficiais, a abertura oficial, em 28 de Junho 2005, da causa de beatificação de João Paulo II. E até já se fala num milagre operado numa freira, conseguido pela oração/cunha de outras freiras. Fica tudo em família. Deste modo, os negócios da Cúria Romana podem prosseguir sem percalços, porque um papa feito santo enquanto o Diabo esfrega um olho, dá milhões aos cofres do Vaticano e, sobretudo, dá um prestígio do caraças.

Por outro lado,se o papa João Paulo II é assim canonizado sem mais, então também são canonizadas com ele as notórias posiões anti-jesuânicas dele contra a Teologia da Libertação, contra a eclesiologia de comunhão, contra a ordenação de mulheres, contra o celibato opcional dos padres, contra o uso responsável do preservativo, e contra as pessoas homossexuais e lésbicas. E ainda muitas outras acções criminosas, realizadas duran-te os largos anos do seu pontificado e com a sua bênção papal: "O Vaticano vendeu armas, financiou ditaduras, golpes de Estado, ocorreram falências financeiras e bancárias e por causa delas muitas pessoas «se suicidaram», além de ter ordenado operações encobertas do serviço de espionagem pontifício." (cf.E.Frattini, A santa aliança. Cinco séculos de espionagem do Vaticano, Campo das Letras, 2005)