terça-feira, 26 de maio de 2009

CARTA AO PRESIDENTE DO MUNICIPIO DE MAPUTO


Sua excelência senhor presidente do conselho Municipal da cidade de Maputo, dirijo-me a vós em primeiro lugar, como um compatriota. Em segundo lugar, na qualidade de cidadão atento ao desenvolvimento socioeconómico do país. E por último, como municipe de Maputo.
Sei que é vosso dever como governante defender os direitos, as vontades e as aspirações dos cidadãos que, através do voto lhe conduziram ao cargo que ocupa. É por isso que, quando tomou posse jurou defender a constituição e os anseios deste mesmo povo.
Graças a colonização, herdamos uma linda cidade. Acredito que, com meios próprios não seríamos capazes de erguer obra igual em tempo útil. Primeiro, por causa da nossa pobreza, por outro lado, devido ao tipo de mentalidade que diariamente cultivamos.
Damos muito valor a questões mesquinhas. Para nós o clientelismo, corrupção e a falta aguda de transparência na gestão da coisa pública, estão acima de todos valores. Então, se não conseguimos gerir a cidade, como seríamos capazes de construir uma coisa do genero?
Enfim. Mas, isso é assunto para outros fóruns, hoje proponho-me debruçar de forma sucinta sobre alguns problemas que nos flagelam.
Excelência, estou cônsio dos esforços que os dirigentes deste país têm desenvolvido para melhorar as dificuldades do município. Neste caso, o meu especial reconhecimento, direciona-se ao elenco cessante, apesar de, ter começado a trabalhar no final do mandato. Como sempre, nas vésperas das eleições.
Senhor presidente, a nossa urbe, não é apenas assolada por questões como o lixo, pintura de edifícios e a reabilitação de esgotos. Progressivamente, Maputo enfrenta uma vaga de crises, causadas pela má conduta de alguns munícipes e seus gestores.
Um deles é o caso do encurtamento e desvios de rotas perpetrado pelos transportadores de passageiros semicolectivos em conluio com a polícia municipal, segundo denuncia a população. Isto é, alguns membros dessa corporação são corruptos e adoptaram a extorsão de “chapeiros” como modus vivend.
Parecendo que não, mas, o assunto é sério. O fenomeno está atingir limites preocupantes nas nossas vidas. Diariamente, nas horas de ponta a situação atinge o pico. Os transportadores chegam a improvisar quatro terminais numa só viagem.
Exemplo: alguns transportadores da rota Anjo voador/Magoanine levam passageiros até à praça dos heróis.
Daí chamam as pessoas que vão até a praça dos combatentes. A seguir, o mesmo carro diz que vai até Hulene e finalmente segue para Magoanine e vice-versa. Cada uma dessas “semi-rotas” custa cinco meticais, isto é, as pessoas são obrigados a tirar mais 12.5 meticais extras.
A este nível as coisas começam a ficar difíceis para o cidadão pacato que vive por exemplo a dez quilómetros da cidade, ganha salário mínimo com esposa e filhos para sustentar. Lembre-se, um dos grandes objectivos que o senhor defende em comunhão com o chefe de estado, é o combate a pobreza absoluta o mais rápido possível.
Deixar impune uma promiscuidade dessas é adiar os desejos e anseios de todo um povo. O desenvolvimento do país não pode ficar refém de uma corja antipatriótica e oportunista.
No ano passado, se a memória não me falha, um relatório internacional mencionou a nossa cidade na lista das dez mais sujas do mundo. Notícias dessas não dignificam a todos compatriotas que lutamos nas várias frentes para o bem-estar deste país.
Excelência, louvo a vossa vontade de querer mudar o cenário. Todavia, não concordo com os métodos pelos quais se baseia para tal. Por exemplo, contratar meia dúzia de figuras públicas e pô-las na televisão a sensibilizar as massas, no sentido de resistir aos encurtamentos, não é suficiente.
Deixa-me contar-lhe de acordo com a minha experiência, dado que, o senhor, simplesmente ouve falar dessas coisas e ignora a essência da questão:
Nas horas de ponta, quando o cidadão vai e vem do seu posto de trabalho a procura do transporte aumenta. O senhor sabe que, nesses casos a oferta diminui logo, há escassez do produto no mercado. Sendo assim os transportadores aproveitam-se do fenómeno para subir o preço.
Nessa hora, o pobre cidadão é posto entre a “espada e a parede”. Forçado a chegar em casa às 23 horas e sofrer agressões de bandidos, visto que, as ruas do seu bairro estão às escuras. Caso não, tem que “depenar-se” tirando 20 meticais do seu mísero salário para satisfazer os caprichos dos transportadores.
Como pode notar, ao cidadão pacato não é dada a oportunidade de exigir os seus direitos, embora, os tenha. As suas possibilidades para mudar de vida são nulas, pior ainda quando desprovido de padrinhos, assim como, se não tiver uma pele mais clara, como está acontecer neste país nos nossos dias.
O conforto e o luxo são para as elites políticas e económicas. Boa vida é para os abastados. Estes são os que detêm a prerrogativa de optar por tudo quanto lhes der na gana. Quanto ao povo, que continue ao-deus-dará e, até lá salve-se quem puder! Não é assim como se pensa nos círculos do poder deste país?
As minhas sinceras e humildes desculpas pelo tom, é que o amor à pátria e a grande vontade de viver num país melhor, tem dessas coisas! Pense nisso!