sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Desata-te! O que é que te impede?

Ao iniciar o ano de 2010, como diz o ditado “ano novo vida nova”, devemos tentar começa-lo com energia positiva libertos de conceitos e preconceitos, que nos impedem de seguir um caminho livre de ataduras, como ainda se fossemos “escravos”. E tu és escravo de quê? Do teu partido? Da tua religião? Das feridas que recebeste quando eras criança? De algum vicio nocivo que te vai matando aos poucos? Daquilo que alguém decidiu por ti ou duma relacao que não te satisfaz? De um trabalho que não desfrutas ou da vida que levas?

Desata-te! Deixa para trás o fardo que levas e que nele guardas animosidade, rancor e culpa. Deixa já de culpar aos outros, por aquilo que te foi mal na vida. Em cada dia que passa, tens a oportunidade de começar outra vez. Cada manhã, ao abrires os olhos, nasces de novo, recebes outra oportunidade para mudar a tua vida em direcção àquilo de que gostarias de melhorar. A possibilidade é toda tua.

O que é que te impede? O medo do insucesso? Do êxito? Do fracasso? Daquilo que dirão os outros? Da critica? De cometeres erros? De estares só? Rebenta já a corrente com que tu mesmo te amarraste. O único a que deves temer é a ti próprio, ao deixares passar a vida sem fazeres o que queres e decidir as tuas coisas de acordo com os teus princípios e convicções. Os erros do passado já foram esquecidos e os erros do futuro serão perdoados. Podes ter a certeza de que ninguém guarda um ressentimento daquilo que fizeste mal. Só tu mesmo…Esse juiz que te condena esse algoz, esse mau amigo que sempre te critica… és tu mesmo. Deixa-te em paz e perdoa-te só tu podes conseguir.

Acorda! Esta é a vida! A vida não é o que sucede quando se cumprem todos os teus planos, nem quando tiveres o que desejas. A vida é o que está a passar agora e neste preciso momento. Pensa: neste momento o teu coração leva sangue a todas as células do teu corpo e os teus pulmões levam oxigénio aonde ele é necessário. Neste momento, existe algo que não podemos compreender muito bem, que te mantém vivo e que te permite ver, pensar, expressar-te, mover-te, rir e até chorar se quiseres. Sobre o dia de amanhã não sabemos, meu irmão. Mas de uma coisa eu tenho certeza: a vida é hoje e a morte é o fim!

Não te habitues a acordar aborrecido, mal-humorado ou preocupado. Põe a mão no teu peito e sente o coração a bater com força, dizendo-te: “estás vivo, estás vivo, estás vivo”. Eu sei que a vida não é perfeita e que está cheia de situações difíceis. E é talvez, por isso que te oferece todas as ferramentas de que necessitas para enfrenta-la: a liberdade de escolher como reagir perante aquilo que sucede; o amor, carrinho e o apoio dos teus seres queridos. Sei também que não és perfeito; ninguém é. No entanto, há milhões de circunstâncias que estão reunidas para que existas.

Foste formado a partir de um desenho maravilhoso e partilhas com toda a humanidade as virtudes e defeitos. Assim está inscrito nos genes de todos os seres humanos, teus irmãos universais. As tuas paixões, os teus medos, as tuas feridas, as tuas debilidades, a tua agressividade, os teus segredos, em suma os teus pontos fracos deves partilhar com os teus irmãos de sangue e de vida. Esses supostos defeitos são parte da tua liberdade e da tua humanidade. E se, acaso, perguntas quem sou eu para te dizer tudo isto, respondo-te que não sou ninguém, sou simplesmente uma versão diferente daquilo que tu és: outro ser humano entre milhares de milhões, mas um que decidiu ser livre e desfrutar do prazer e da maravilha que a vida é. Desata-te! O que é que te impede? Conto contigo.
Feliz natal e prospero 2010


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Investir na provincia do Niassa

Lichinga (Faísca) - A província de Niassa volta mais uma vez a entrar no centro do barulho no tocante ao investimento estrangeiro. Esta semana em Lichinga tem lugar uma conferência sobre os projectos florestais em curso na província do Niassa.
Há muito tempo que não havia algo para sacudir alguns pendentes ligados ao investimento nacional e estrangeiro na província do Niassa.
Quando se fala de florestas, logo a primeira é tocada a questão da TERRA! Terra essa que já não abunda muito na província.
É que são quatro empresas posicionadas em partes de cinco distritos do Niassa, distritos com alguns problemas de desmatamento.
São as famosas consultas comunitárias que não acontecem, são favores a esta e aquela empresa florestal na emissão de DUAT em detrimento de outras. É neste prisma que é feito o desenvolvimento da província do Niassa nos últimos cinco anos!
A conferência é importante por surgir nas vésperas de mais uma época de plantio de pinheiro e eucaliptos nos distritos de Mandimba, Sanga, Ngaúma, Muembe, Lichinga e Lago.
A conferência é mais importante ainda porque permite-nos ver até que ponto o prometido está sendo cumprido por parte dos investidores.
Olhando para o aspecto positivo deste investimento, nota-se que há muito emprego formal em Mbandeze, Chiconono, Maniamba, Massangulo, Mussa, Mapaco e na cidade de Lichinga.
Notamos que há muito moçambicano que tem acesso ao banco e usa as famosas ATM’s em cada mês para ter acesso ao Metical.
Notamos também que alguns bancos comerciais da praça beneficiam deste investimento estrangeiro todos os dias.
Mas acreditamos que ainda falta muita coisa, como escolas (de qualidade), furos de água, etc e etc prometidos nas negociações para o acesso aos milhões de terra.
Acreditamos que da parte do Governo do Niassa, deve haver uma mudança de atitude na fiscalização destes investimentos.
A conferência provincial sobre o reflorestamento servir de trampolim político de uma gang algures sem direcção.
É que há muito ainda por ser feito até 2015, altura em que se espera que as primeiras colheitas começam a sair nas florestas.
Há que falar da reabilitação da linha-férrea Cuamba-Lichinga, estradas, expansão da energia eléctrica e outros serviços de apoio aos distritos onde os projectos são implementados.
Temos dito!
Editorial, Jornal Faísca, 4.12.09

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

22 de Novembro de 2009

Em Memória de Carlos Cardoso

Ano de 2000. Tarde de quarta-feira 22 de Novembro. Carlos Cardoso fechou a edição do dia e enviou por Fax o Metical aos mais de 400 assinantes, sobretudo diplomatas, funcionários e pessoas ligadas aos negócios. O dia caía, por volta das 18 horas entrou no carro com o motorista e dirigiram-se à casa.

Pelo caminho, numa das avenidas de Maputo, duas viaturas Vokswagen, um Citti Golf vermelho e outro 1600 Sedan com vidros fumados, bloquearam o seu automóvel. De acordo com várias notícias, dois homens armados com AK-47 saíram de um dos veículos e atiraram fatalmente contra o jornalista e feriram o seu motorista.

Morria nesse instante supremo um grande homem, o percursor do jornalismo investigativo em Moçambique e porta-voz das minorias empobrecidas e oprimidas que com suor e sacrifício sobrevivem à intempérie a tentar encontrar a sua voz e vez. Foi o maior no jornalismo e um dos melhores entre os filhos de Moçambique, é por isso que, o seu nome ficará indelevelmente marcado no rodapé da história contemporânea deste país.

As causas por detrás da sua morte suscitaram muitas interpretações, todavia a maior parte delas ponderam que Cardoso foi morto porque representava uma grande ameaça contra a corrupção, a lavagem de dinheiro, o narcotráfico, o abuso de poder, o enriquecimento ilícito entre outros crimes. A maior parte desses males eram e continuam a ser protagonizados por pessoas ligadas ao poder politico e económico. Nesta ordem de ideias, em 2001, numa das suas passagens, um relatório do Comité para Protecção de Jornalistas, escreveu nos seguintes termos: “ Cardoso tinha sido morto por que era o único jornalista que tinha os contactos, a habilidade e a tendência para confrontar as elites no poder com provas sobre a sua própria corrupção”.

De lá para cá, passam nove anos. São nove anos de eterna saudade. Anos de ausência-presença. Anos de dor. Anos de nostalgia. Anos de frustração e de rancor por parte de seus familiares, amigos e muitos outros cidadãos que se revêem e se espelham em seus ideais, pelo que um simples julgamento e uma pena máxima contra os seus assassinos constituem uma insignificância para repor o vazio e o luto que ele deixou.

Entretanto, para além de dar que falar, a sua morte despoletou várias faces ocultas do sistema politico e economico de turno na época, como também pôs a nu muita podridão, outrora encobertas pelos mais eficazes métodos maquiavélicos. A partir daí, o país, demonstrou ao mundo, até à saciedade, a hipocrisia e a mentira por que sempre se regeu. Passou-se a conhecer na integra os indivíduos que ditam as regras do jogo, como também fez-se saber que, às vezes o estatuído na lei serve apenas para o Inglês ver tal como aconteceu com a liberdade de imprensa preconizada em principio na Constituição de 1990, Cardoso quis fazer o seu uso e logo foi morto.

Com a morte deste grande homem, Moçambique passou, cada vez mais, a ganhar lugar no grupo dos países mais corruptos do mundo e cresceu sobre si o número de pesquisas e investigações sobre actividades ilegais. Posteriormente, esses estudos pariram inúmeras exposições violentas que mancharam a nossa imagem no contexto das nações. Um deles foi em 2000 quando o famoso relatório da Agência Americana Anti-Drogas (DEA) que tinha aberto um gabinete na vizinha África do Sul, em 1997, para monitorizar o explosivo crescimento da indústria de narcóticos na região, reportou que Moçambique era um dos principais portos de entrada de drogas ilegais oriundas do Sudeste Asiático e, ainda segundo a DEA, a maior parte deste tráfico é, posteriormente, enviado para a Europa.

Assim, volvidos que são nove anos é necessário que novos Cardosos surjam para prosseguir com os ideais do primeiro. Moçambique continua a subir na lista dos mais corruptos entre as nações, a pobreza cresce, a exclusão social aumenta, as assimetrias regionais prevalecem, o tribalismo e regionalismo nos caracterizam, a partidarização do aparelho de Estado é o nosso modus vivendi, o país virou um suave Zimbabué e o aparelho de Estado um feudo gerido por gente individualista até ao nojo.

Em meu entender, as condições existem, mas faltam a coragem e estômago para tal, algo que persiste, devido a crónica mentalidade de defesa do pão, labebotismo e escovismo crassos que caracterizam muitos jornalistas deste país. Cardoso era destemido e mais do que isso foi um verdadeiro patriota, razão pela qual deu a sua vida pela pátria amada. Por tudo isso e muito mais, o seu nome continuará a inspirar gerações. Que a sua alma descanse na paz dos anjos e que Deus lhe perdoe as suas faltas!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

AEU-UEM E OS CONTORNOS DE UMA PALESTRA/CAMPANHA

Basta apenas um olhar desatento e superficial, em relação ao desempenho do actual elenco da Associação dos Estudantes Universitários da UEM, para chegar-se a conclusão errada de que este constitui o melhor grupo que já alguma vez presidiu os destinos daquela Associação. Foi nessa ordem de ideias que há um tempo publiquei alguns escritos a valorizar, elogiar e exaltar os feitos, aparentemente positivos da referida turma.

Hoje é claramente notório que, os dirigentes deste órgão, guiam-se pela táctica que consiste em turvar as águas para manipular a opinião estudantil e camuflar os podres que mantêm por detrás daquelas caras tipo anjinhos, ou seja, fingem que trabalham em prol dos estudantes enquanto no fundo são autênticos oportunistas e precursores do latrocínio que até agora, graças ao diabo, continuam a enganar-nos, inclusive de tanta habilidade conseguem granjear simpatias até da própria reitoria. Por conseguinte, em detrimento de bibliotecas, livrarias, museus e cultivar nos estudantes o hábito de leitura, dedicam-se a assinar acordos para obter descontos nas discotecas e outras casas de diversão. É por essa via que, quando deles esperamos a criação de debates e reprodução de ideias com vista a solucionar as crises que assolam o país, nos embriagam com festas estupidamente narcotizantes que prolificam ambientes propícios para o despontar de uma juventude adúltera, domesticada e mentalmente estéril, assim também uma geração de lacaios completamente desprovidos de senso crítico.

Na mesma óptica, no lugar de promover palestras científicas e académicas organizam campanhas eleitorais como aconteceu no passado dia 2 de Outubro. Alias, olhando para os contornos com que, o evento tomou, afigura-se certo afirmar, sem sombra de dúvidas que a sua realização foi oportuna, pois, apesar de voltarem frustrados e revoltados por terem sido servidos Gato ao invés de Lebre como antes foi anunciado, os estudantes/participantes disseram ter sido uma boa lição de vida e acrescentaram ter saído de lá mais lúcidos e libertos, doravante jamais serão enganados. “A máscara partidária da AEU acabava de cair naquele dia”, afirmam. Para mais informações sobre o evento, vide no Canal de Moçambique de 6-10-09 e no Magazine independente de 21-10-09, os debates em: http://comunidademocambicana.blogspot.com/search?q=AEU.

Com efeito, em resposta a fortes pressões internas e externas oriundas dos estudantes bem como de algumas faculdades que chegaram a ameaçar não colaborar com a associação por causa de tais patranhas e outras atitudes pouco dignas para pessoas que dirigem um órgão do género, o presidente da AEU, numa atitude nobre, mas forçada, deu a mão à palmatória e reconheceu o erro pedindo desculpas por via de um comunicado que agora pulula de canto em canto na Universidade e nas residências.

Entretanto, pelo sim ou pelo não, parecer que as coisas não andam lá muito bem na associação e a referida palestra constituiu a gota de água que precipitou os ânimos, ao avivar rancores ocultos que, por sua vez, deram a conhecer sobre a existência de graves problemas no seu seio. Segundo ficou-se a saber, AEU que outrora, em 1991, foi criada para servir os interesses dos estudantes, agora virou um clube de amigos e um verdadeiro feudo cujo objectivo é resolver problemas ligados à fome de uma pequena elite interna. Regista-se tambem sérios indícios de nepotismo e falta de transparência na gestão dos 60 meticais que os mais de 20 mil estudantes da UEM pagam anualmente para garantir a sobrevivência do órgão. Esta tendência vai ganhando forma devido ao espírito de falta de prestação de contas, propositadamente implantado por ali. Ligadas a tais incoerências, estão os frequentes desentendimentos e desatinos na tomada de decisões.
Neste capítulo, as fontes apontam que, desde Setembro de 2008 (época da tomada de posse), até agora, como forma de retaliação, três elementos chave da direcção geral abandonaram o órgão e a há pouco tempo se demitiram dois chefes sobejamente conhecidos pelas suas duras críticas aos desmandos ali instituídos.

Segundo esses relatos, além disso, no rol das discórdias constam algumas viagens desnecessárias, habilmente concebidas para esbanjar fundos. Tais actos são alegadamente protagonizados por pessoas que sintomaticamente ocupam os lugares cimeiros do poleiro. No mesmo diapasão, há indicações do uso abusivo e anti-racional de produtos doados para actividades académicas, ou seja, chega-se ao ridículo de cozinhar com a água mineral remanescente das palestras, para além de vendas ocultas de camisetes requisitadas para marchas estudantis como aconteceu na lufa-lufa de17 de Novembro de 2008.

Assim, alguns membros que ainda sobrevivem à intempérie tentam em vão batalhar para a realização da Assembleia-geral (que está para breve segundo os mesmos) tida como provável bóia de salvação, enquanto imploram a Deus, para que mande uma chuva de auditorias nas contas da associação, com vista a pôr a nu toda rapina que subjaz nas suas entranhas.

Enquanto tal não acontece o meu apelo vai direccionado aos nossos ilustres dirigentes para que levem a bom porto esta instituição que é de todos nós. Não convêm que os seus destinos estejam a mercê de jovens imaturos a sair da puberdade, sem espinha dorsal e um desenvolvimento integral, muito menos ainda sem audácia para se meterem nas mesmas causas históricas e heróicas pelas quais os nossos pais Eduardo Mondlane, Uria Simango, Samora Machel, entre outros deram para libertar este país.
Pensem nisso, contanto que não vos zangueis comigo, pois há entre vós algumas excepções a esta regra!
Tem a palavra o presidente!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Os nepotistas…

Há um tempo quando escrevi sobre a incessante institucionalização do nepotismo nas organizações públicas e privadas do nosso país, muitos conterrâneos nacionais abordaram-me procurando saber sobre o significado da palavra.

Para satisfazer a eles e quiçá a outros com interesse no assunto, saibam que: morfologicamente, a palavra híbrida nepotismo é formada pelo radical nepote (do latim népos/nipote/nepõtes, que significa sobrinho/neto/descendente) e pelo sufixo nominal: "ismo" (do grego ismós, que significa "prática de").

Fontes clássicas indicam que a palavra nepotismo provém do baixo-latim eclesiástico: nepote, que significaria sobrinho do Papa. Deste modo, nepotismo significa a prática adoptada pelos Papas dos séculos XV e XVI em favorecer, sistematicamente, suas famílias com títulos e doações.
Contemporaneamente, o nepotismo é o hábito de favorecer alguém preferido pelos que detêm o poder. O Dicionário Michaelis, procurando incrementar o significado da palavra, indica, por extensão voluntária, que nepotismo é o "favoritismo de certos governantes aos seus parentes e familiares, facilitando-lhes a ascensão social, independentemente de suas aptidões. Portanto as pessoas que cultivam esse comportamento podem ser consideradas os nepotistas…

Note-se que, este pendor vem desde o século XV, inicialmente protagonizado pelos Papas, os mesmos que se presume serem indivíduos mais próximos de Deus (conforme nos ensina a Igreja Católica Romana) e confrades do seu filho, Jesus. Facto que, segundo a minha opinião, devia fazer-lhes agir com justiça e igualdade, pois que, tanto Deus como Jesus (segundo eles mesmos) são bons e jamais mensurariam as pessoas com base em graus de parentesco!

Como ficou acentuado na última abordagem sobre o assunto, cá entre nós, essa propensão tem logrado sucessos graças a insensatez dos nossos dirigentes e alguns “chefesitos” que ao sabor da sua obstinação passam por cima dos concursos públicos, empregam parentes e distribuem cargos de confiança a esposas, filhos, primos, cunhados e toda índole de afins que recolhem por aí.

Um dia desses um amigo dizia estar seguro de que seria aceite numa empresa porque, além de reunir os predicados exigidos, a entrevista tinha sido conduzida por um indivíduo de raça branca e estrangeiro. Dito e feito, dois dias depois, o mesmo foi contratado. A seguir ligou-me para provar a sua presciência e acrescentar que, aquele lugar não seria seu, se fosse entrevistado por um compatriota. Vejam senhores e senhoras a que ponto a situação chegou!? Será que temos que chamar gente de fora, até para ensinarem-nos a fazer entrevistas de emprego?!

Por exemplo, nos últimos dias há uma série de monitorias com vista a cobertura das eleições. Nisso, há indicações de que o grosso modo delas são feitas por clubes de amigos amadores e incompetentes que, daqui a um ou dois meses, em forma de resultados das mesmas, virão a público de boca cheia e a repetir até à náusea, o mesmo lugar comum de sempre: a Frelimo usou meios do Estado para a campanha eleitoral e que os órgãos de comunicação social públicos fizeram uma cobertura parcial, mesmo que isso não seja verdade, contanto que deleite os patrões das tais pseudo-pesquisas. Onde é que vamos parar a esse nível?

Por outro lado, um relatório recentemente publicado pelo Mecanismo Africano de Revisão de Pares (MARP), em Maputo, concluiu que a filiação partidária, o nepotismo e o amiguismo predominam como critérios de recrutamento para a função pública. Estima-se que o número de funcionários do Estado recrutados com base no mérito profissional se situe em apenas 13 porcento.

Que verecúndia! Mas nem tudo está mal, porque felizmente esses factos põem a nu a crescente hipocrisia “euforisada” nos discursos efusivamente proferidos em prol da unidade nacional e de igualdade de direitos e oportunidades para todos. Fiquem de olhos compatriotas, há nepotismos crassos em tudo quanto é canto no país, sendo talvez por isso que, as nossas instituições carecem de porte suficiente para gozar de alguma credibilidade, aqui e além fronteiras.

PS. Rui Lamarques acabou de criar um novo blog. O mesmo chama-se “A putanizacao da nossa espécie”. Portanto é uma referência certa para aqueles que gostam de percorrer escritos feitos com um alto grau de lucidez. Sendo assim convido-lhe a espreitar a nova janela e faça-o com gosto e como quem mastiga, asseguro que não irá se arrepender…
Eis aí o site:
http://frontalidade-xigono.blogspot.com/

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A “PRAGA” DA PARTIDARIZAÇÃO DAS RESIDÊNCIAS UNIVERSITÁRIAS

“...A filiação partidária, o nepotismo e o amiguismo predominam como critérios de recrutamento para a função pública. Estima-se que o número de
funcionários do Estado recrutados com base no mérito profissional se situe em apenas 13 porcento…”

Este excerto pode-se ler num relatório publicado na quinta-feira, 16.07.09, na capital do país pelo Mecanismo Africano de Revisão de Pares (MARP) assim como numa notícia do jornal A TribunaFax do dia 20.07.09, assinada por Matias Guente a propósito da frequente partidarização do Estado em Moçambique.

A leitura deste documento fez-me lembrar o actual cenário que caracteriza os estudantes nalguns lares universitários de Maputo. Uma situação típica da corrida aos armamentos protagonizada pelos países europeus nas vésperas das duas grandes guerras mundiais, como documenta a história universal. Só que, no caso presente, trata-se de uma febre aos partidos políticos rumo às eleições de Outubro.

Na minha modesta opinião, penso não ser mau, nem condenável, o acto das pessoas aderirem aos partidos políticos, sejam eles quais forem. Aliás, cada cidadão é livre de o fazer nas condições em que bem entender, contanto que, não seja de forma exasperada, como acontece nos últimos dias nessas casas onde a situação chega a confundir-se com uma autêntica praga.

Embora reconhecendo o papel crucial que os partidos políticos jogam numa sociedade democraticamente salutar, considero-os, autênticas pedras de tropeço e, por isso, sérios obstáculos para a emergência de uma classe mentalmente critica. Basta reparar para o espírito de subserviência, letargia e falta de investigação científica a que os nossos intelectuais ao serviço dessas organizações estão submetidos.

Ora, pouco sei sobre a história politico-partidária das residências universitárias, entretanto, nos últimos anos, fui-me informando através de várias fontes de que, os lares também não escaparam aos famosos programas de disseminação e criação de células em tudo quanto é canto no país, promovidos pela Frelimo. É por isso que, não constitui “pecado” algum falar desse partido nas residências como acontece quando se faz menção de outros. O que não quer dizer que as perdizes, os pangolins, e os galos não tenham simpatias nesses meandros.

Assim, com o surgimento do MDM e a proximidade das eleições, a maratona está atingir níveis de alta competitividade, transformando os recintos em verdadeiras arenas de disputas eleitoralistas e partidárias em que cada organização passeia a sua classe com promessas sem entranhas de honestidade e argumentos habilmente concebidos para sacar o voto dos estudantes.

Segundo fontes dos locais, muitos estudantes nutrem simpatias pelo MDM. Conta-se que num desses domicílios, o número de estudantes/simpatizantes chega a atingir 70 porcento das mais de quatro centenas que vivem por ali. Outros dados dão conta que, na residência universitária número 1 da UEM, cada piso, num universo de 8, possui uma célula da Frelimo a trabalhar com unhas e dentes para recolher cada vez mais, novos membros.

Este clima confirma as teses que denunciam a falta de empenho académico por parte dos estudantes nos últimos momentos. Longe se vão os tempos em que as residências eram verdadeiros centros de debate, onde uma grande diversidade de seres humanos pensantes confluía os seus diversificados conhecimentos e visões com vista a produção cientifica em prol do desenvolvimento da pátria.

Nesta ordem de ideais, muitos compatriotas questionam: Porque os estudantes precipitam-se aos partidos políticos?

E na mesma linha, outros respondem: esse comportamento é na maior parte justificado pela tentativa de salvaguardar uma sobrevivência estomacal segura no futuro. Os nossos doutores do amanhã tencionam evitar as experiências amargas de desemprego e miséria, cuja maior parte dos seus antecessores ficou votada depois das licenciaturas.

Por outro lado, sublinhe-se que muitos desses jovens são provincianos e quando terminam os seus cursos enfrentam várias barreiras para encontrar um reduto que lhes dê sustento, crises essas, que impedem a sua auto-afirmação como humanos em estado de maioridade.

Segundo a realidade no terreno, as dificuldades tem em parte a ver com a crescente partidarização do Estado moçambicano, exclusão social, a institucionalização do nepotismo e clientelismo nas organizações público-privadas, entre outros, como refere o supracitado relatório.

Portanto, o mais caricato nisso, é o facto da maior parte das vezes, os estudantes não gostarem da situação. Todavia suportam, gritam de forma efusiva e hipócrita todos os vivas requisitados no partido. Uma atitude indigna que os faz cada vez mais marionetas e cidadãos alienados.

É caso para dizer que estamos diante duma geração rasca e a reboque dos partidos políticos. Algo que não é saudável para o tipo de filhos que a nossa pátria amada necessita! Portanto, pensem nisso. Saudações académicas a todos os estudantes espalhados por este solo pátrio.





quinta-feira, 13 de agosto de 2009

ATENÇÃO
Vem ai O Campus
.

Ilustres senhores,
O blog O PATRIOTA
http://www.felixesperanca.blogspot.com/ na pessoa do seu criador-gestor anuncia-vos em primeira-mão a chegada nos próximos dias, de uma publicação estudantil que vai se debruçar sobre temas da actualidade, ligados ao dia-a-dia dos milhares de estudantes espalhados, nas várias instituições de ensino superior e não só, em Moçambique.

Trata-se dum jornal mensal, tablóide, com 32 páginas coloridas e com uma tiragem de 20 mil exemplares que serão distribuídos gratuitamente em todas instituições de ensino superior do país. Nesse desafio pretende-se abordar varias questões sobre saúde, desporto, educação, cultura entre outros campos que interessam o nosso público-alvo. Tudo isso será trazido por meio de reportagens, noticias, crónicas opiniões etc.

E, por ser uma publicação concebida por e para estudantes agradecíamos a colaboração de todos. Mande-nos assuntos que acontecem na sua instituição e nós publicaremos. O objectivo do campus é trazer as inquietações, anseios, sonhos e aspirações da classe estudantil. Numa só palavra diríamos que pretendemos ser porta-vozes de toda classe académica do país.

Desde já, ficamos por aqui, na expectativa de que o convite foi lançado.

SEJA O NOSSO REPORTER NA SUA INSTITUICAO.
Para mais informações, ligue: 82 4000829 ou envie um E-mail fdaesperanca@hotmail.com, felixesperanca@gmail.com

quinta-feira, 23 de julho de 2009

QUE INFLUÊNCIAS A JUVENTUDE TEM NAS DECISÕES DO PAÍS?

Esta foi a questão que polarizou o programa televisivo “Debate da Nação” da STV, na terça-feira 21 de Julho de 2009, na ocasião, efusivamente moderado pelo jovem jornalista Arsénio Henriques.

Um dos denominadores comuns a todos estes programas é a grande presença de um público heterogéneo. Pululam por ali pessoas de várias índoles. Uns lúcidos e equilibrados, outros agressivos e nervosos.

Estes últimos vão ao programa, não para contribuir de forma salutar, mas com o intuito de despejar as suas dementes opiniões, típicas de palradores-banais e ignorantes.

Embora semelhante a todos outros, o debate da nação da terça-feira não deixou os seus créditos em mãos alheias. Vimos por ali uma plateia e auditório riquíssimos que, através de variadas observações iam nos brindando diferentes pontos de vista, trazendo sabor e vida ao tema em questão.

E porque é sempre assim em programas daquela natureza, estiveram lá jovens obcecados pelo ”politicamente correcto” e outros não. Todavia, defendendo ou não o politicamente correcto, a verdade manda dizer o seguinte: A juventude moçambicana não tem influências nas decisões do país.

E, este cenário está aliado a vários factores, tendo um deles, a ver com a crónica letargia que afecta a nossa geração, somos uma juventude que assiste impávida e serena o desenrolar das coisas no país.

Quem não sabe que a única preocupação do jovem actual é trabalhar para comprar um carro, vivendo numa casa em arrendamento e passar o resto dos seus dias a beber?

Os jovens mais atentos às dinâmicas do país, precipitam-se a aliar-se aos partidos políticos pois que, é neles onde vêem a bóia de salvação e a solução dos seus problemas. Gostando ou não do partido, estão lá a engolir sapos, contanto que, não lhes esqueçam na hora dos tachos, ou um espaço no poleiro de uma associação juvenil qualquer.

A frequente febre de aquisição dos cartões amarelos, cor-de-rosa, vermelhos, pretos entre outros é a prova mais cabal disso. Como é que o jovem vai esforçar-se em estudar e trabalhar, se a priori já sabe que o mais importante que isso é usar máscaras e gritar vivas ao partido, assim como dominar a ciência do lamber botas.

Por outro lado, a crescente mediocridade tacanha, que se espalha pelo país fora contribui em grande parte nesse sentido. Somos arrogantes, porém ignorantes. Como ­se justifica que uma figura daquelas que, se auto intitula mais patriota que os outros, tenha dificuldades em dizer quem foram os signatários dos acordos de paz?

Vendo as coisas dessa forma, presumo ser difícil a juventude ter influências nas decisões do país porque isso pressupõe também, o conhecimento, pelo menos, de forma superficial sobre pouco da nossa própria história.

Ao dizer que, quem assinou os acordos de paz em Roma foram Guebuza e Dhlakama é um erro grave e até certo ponto crasso quando tal ignorância vem da boca duma pessoa como Mc Roger.

Não é verdade que os jovens já estão a decidir neste país, como mentirosamente quis nos convencer um dos participantes do debate. O número de jovens que estão nos centros de tomada de decisões é ainda insignificante.

Além disso, esses jovens só estão lá e não resolvem os problemas da maioria, vegetam nesses conclaves justamente para fazer valer os seus interesses pessoais e estomacais.

Portanto, é uma utopia pensar que esta geração está ter influências nas decisões deste país, porque isso não será fácil enquanto prevalecer um conflito de gerações tão crónico como este que actualmente impera.

Os nossos dirigentes não estão interessados em ter a juventude como parceira na tomada de decisões. Eles têm consciência do papel que a juventude joga para operar mudanças e o estilo de vida de uma nação. O que acontece é que os nossos governantes estão acomodados e gostam da vida que levam.

Sendo assim, quanto mais jovens preguiçosos, dorminhocos e amorfos Moçambique tiver, melhor para eles que pretendem pagar as favas do sofrimento nas matas, no tempo da luta de libertação nacional. Ou pensam que as declarações do general Hama Thai dizendo que: A juventude pode vender o país, vem ao acaso.

Pensem nisso!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

DOIS PEIXES COM LEGUMES

É a terminologia que tem sido atribuída ao novo comercial que a CNE está passar nas rádios e televisões nacionais, visando persuadir as pessoas no sentido de afluir em massa as eleições de Outubro.

É também o título que Sebastião Mbeve escolheu para o seu artigo que, pulula nos meios de comunicação social alimentando, dessa forma, o debate dos últimos dias na praça.

Para melhor situar os meus leitores, recorram ao jornal Magazine Independente de 15.07.09 na sua página 08, como também, ao endereço http://www.debatesedevaneios.blogspot.com/

A CNE está de parabéns, por cumprir com o seu dever de promover a educação cívica. Segundo o meu ponto de vista o comercial apresenta um conteúdo bastante bem elaborado, um sentido de humor maravilhoso, assim como um objectivo visivelmente claro: combater as abstenções nas próximas eleições.

Todavia, como a nossa sociedade está cada vez mais pejada de gente atenta e palradores-banais prontos para criticar e deixar ficar as suas dementes opiniões, o trabalho da CNE viu-se mais uma vez conotado com os interesses do partido no poder, no caso concreto a Frelimo. Tudo por causa de um suposto fundo vermelho.

Ora, está claro que, devido ao estado medíocre da nossa democracia, mais do que discursos e enrolamentos, as eleições nunca trazem nada de concreto para a vida da população. Tal é o caso do lustro que termina: falou-se muito e fez-se pouco. Faz tempo que, os nossos governantes deixaram de trabalhar para o povo.

As grandes conquistas que os discursos oficiais anunciam não se traduzem no prato do cidadão pacato. Muitos moçambicanos vivem ao-Deus-dará, entretanto quando sintonizam o rádio ouvem o PR no parlamento a afirmar que, o estado da nação é bom. Um paradoxo crasso.

Por isso e por outras patetices o povo está farto, daí não vê razão para continuar a votar nas mesmas pessoas que mentirosamente lhes promete dias melhores. O povo prefere abster-se das eleições.

Ciente dessas abstenções, a CNE pretende resgatar o voto das massas e convence-las a afluirem `as urnas de votação. Por isso, meu caro Mbeve, nada a mais e nada a menos, segundo a leitura que faço, Dois peixes com legumes enquadra-se nesse objectivo.

Porém, visto que, cada cabeça é uma sentença e cada um vê nas coisas aquilo que quer ver, só devemos respeitar a pluralidade de ideias. Já dizia uma figura que abrilhantou a antiguidade clássica com os seus dotes retóricos e sofísticos: O Homem é a medida de todas as coisas – refiro-me a Protágoras.

Portanto os argumentos Mbevistas podem estar certos até esse ponto, mas doutra forma presumo que se trata de procurar problemas onde não existem. Sendo assim deixemos a CNE trabalhar `a vontade.
felixesperanca@gmail.com

terça-feira, 26 de maio de 2009

CARTA AO PRESIDENTE DO MUNICIPIO DE MAPUTO


Sua excelência senhor presidente do conselho Municipal da cidade de Maputo, dirijo-me a vós em primeiro lugar, como um compatriota. Em segundo lugar, na qualidade de cidadão atento ao desenvolvimento socioeconómico do país. E por último, como municipe de Maputo.
Sei que é vosso dever como governante defender os direitos, as vontades e as aspirações dos cidadãos que, através do voto lhe conduziram ao cargo que ocupa. É por isso que, quando tomou posse jurou defender a constituição e os anseios deste mesmo povo.
Graças a colonização, herdamos uma linda cidade. Acredito que, com meios próprios não seríamos capazes de erguer obra igual em tempo útil. Primeiro, por causa da nossa pobreza, por outro lado, devido ao tipo de mentalidade que diariamente cultivamos.
Damos muito valor a questões mesquinhas. Para nós o clientelismo, corrupção e a falta aguda de transparência na gestão da coisa pública, estão acima de todos valores. Então, se não conseguimos gerir a cidade, como seríamos capazes de construir uma coisa do genero?
Enfim. Mas, isso é assunto para outros fóruns, hoje proponho-me debruçar de forma sucinta sobre alguns problemas que nos flagelam.
Excelência, estou cônsio dos esforços que os dirigentes deste país têm desenvolvido para melhorar as dificuldades do município. Neste caso, o meu especial reconhecimento, direciona-se ao elenco cessante, apesar de, ter começado a trabalhar no final do mandato. Como sempre, nas vésperas das eleições.
Senhor presidente, a nossa urbe, não é apenas assolada por questões como o lixo, pintura de edifícios e a reabilitação de esgotos. Progressivamente, Maputo enfrenta uma vaga de crises, causadas pela má conduta de alguns munícipes e seus gestores.
Um deles é o caso do encurtamento e desvios de rotas perpetrado pelos transportadores de passageiros semicolectivos em conluio com a polícia municipal, segundo denuncia a população. Isto é, alguns membros dessa corporação são corruptos e adoptaram a extorsão de “chapeiros” como modus vivend.
Parecendo que não, mas, o assunto é sério. O fenomeno está atingir limites preocupantes nas nossas vidas. Diariamente, nas horas de ponta a situação atinge o pico. Os transportadores chegam a improvisar quatro terminais numa só viagem.
Exemplo: alguns transportadores da rota Anjo voador/Magoanine levam passageiros até à praça dos heróis.
Daí chamam as pessoas que vão até a praça dos combatentes. A seguir, o mesmo carro diz que vai até Hulene e finalmente segue para Magoanine e vice-versa. Cada uma dessas “semi-rotas” custa cinco meticais, isto é, as pessoas são obrigados a tirar mais 12.5 meticais extras.
A este nível as coisas começam a ficar difíceis para o cidadão pacato que vive por exemplo a dez quilómetros da cidade, ganha salário mínimo com esposa e filhos para sustentar. Lembre-se, um dos grandes objectivos que o senhor defende em comunhão com o chefe de estado, é o combate a pobreza absoluta o mais rápido possível.
Deixar impune uma promiscuidade dessas é adiar os desejos e anseios de todo um povo. O desenvolvimento do país não pode ficar refém de uma corja antipatriótica e oportunista.
No ano passado, se a memória não me falha, um relatório internacional mencionou a nossa cidade na lista das dez mais sujas do mundo. Notícias dessas não dignificam a todos compatriotas que lutamos nas várias frentes para o bem-estar deste país.
Excelência, louvo a vossa vontade de querer mudar o cenário. Todavia, não concordo com os métodos pelos quais se baseia para tal. Por exemplo, contratar meia dúzia de figuras públicas e pô-las na televisão a sensibilizar as massas, no sentido de resistir aos encurtamentos, não é suficiente.
Deixa-me contar-lhe de acordo com a minha experiência, dado que, o senhor, simplesmente ouve falar dessas coisas e ignora a essência da questão:
Nas horas de ponta, quando o cidadão vai e vem do seu posto de trabalho a procura do transporte aumenta. O senhor sabe que, nesses casos a oferta diminui logo, há escassez do produto no mercado. Sendo assim os transportadores aproveitam-se do fenómeno para subir o preço.
Nessa hora, o pobre cidadão é posto entre a “espada e a parede”. Forçado a chegar em casa às 23 horas e sofrer agressões de bandidos, visto que, as ruas do seu bairro estão às escuras. Caso não, tem que “depenar-se” tirando 20 meticais do seu mísero salário para satisfazer os caprichos dos transportadores.
Como pode notar, ao cidadão pacato não é dada a oportunidade de exigir os seus direitos, embora, os tenha. As suas possibilidades para mudar de vida são nulas, pior ainda quando desprovido de padrinhos, assim como, se não tiver uma pele mais clara, como está acontecer neste país nos nossos dias.
O conforto e o luxo são para as elites políticas e económicas. Boa vida é para os abastados. Estes são os que detêm a prerrogativa de optar por tudo quanto lhes der na gana. Quanto ao povo, que continue ao-deus-dará e, até lá salve-se quem puder! Não é assim como se pensa nos círculos do poder deste país?
As minhas sinceras e humildes desculpas pelo tom, é que o amor à pátria e a grande vontade de viver num país melhor, tem dessas coisas! Pense nisso!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

AS ELEICOES DE OUTUBRO E O EXEMPLO DA AFRICA DO SUL


felixesperanca@gmai.com
28 de Outubro de 2009. É data da realização simultânea das eleições presidenciais, legislativas e provinciais marcadas por Sua Excelência presidente da Republica, Armando Guebuza. Pelo país fora, o clima e os actores políticos estão convulsos, para defrontar o processo.
Os partidos políticos, como sempre, cada um à sua maneira, prolongam-se em acções para ganhar as eleições, fazendo jus a máxima que, outrora, no auge da tentativa de construção do socialismo no país, o nosso saudoso presidente, Samora Machel se inspirou em Mao-tsé-tung, antigo presidente chinês: “ A vitória prepara-se, a vitória organiza-se”.
A Frelimo por exemplo tem se reunido, esporadicamente na Matola para traçar estratégias nesse sentido. Por seu turno, a Renamo através do seu líder Afonso Dhlakama pulula de província em província na região centro do país, andanças essas que culminaram na marcação do seu congresso para Junho na cidade de Nampula.
Por outro lado, o MDM de Davis Simango está também em vista ao desaire de Outubro, ampliando os seus horizontes pelo país. Sobre os outros partidos pouco se diz, no entanto, pode advinhar-se que estejam na mesma azáfama.
Importa saudar e encorajar o partido de Davis Simango, esperando que não seja um mero instrumento para dispersar votos, mas o começo dum partido alternativo para muitos moçambicanos fartos dos tradicionais protagonistas da nossa cena politica.
Todavia, o actual cenário político não se resume apenas, nas correrias dos partidos políticos, nota-se também uma euforia por parte de muitos compatriotas. Estes, de forma efusiva cultivam atitudes bajulatórias, “lambebotistas” e troca de favores em detrimento dos seus valores e princípios.
A razão para tal conduta é tão mesquinha como esta: garantir tachos e benefícios no próximo mandato, assegurar espaço num ministério ou em qualquer poleiro do nosso frágil aparelho de estado para enriquecer delapidando o erário público.
A novela eleitoral deste ano será um pouquinho diferente, por abarcar três eleições e ter mais um partido, o MDM. Contudo, não vai mudar em muito porque já se pode prever o seu final: A Frelimo vai ganhar e como sempre o partido Renamo será o mau da fita.
Ao virar-mos a esquina, aqui tão pertinho concretamente na África do sul, apareceu-nos uma chicotada psicológica e uma boa lição sobre mais ou menos aquilo que deve ser o modelo ideal para a organização de eleições.
Houve dias de voto para deficientes físicos e mulheres grávidas, cidadãos na diáspora, entre outros, finalmente chegou o dia normal. Uma estrutura excelente que terminou em eleições calmas, sem ouvirmos gritos de fraude, nem o uso de dinheiros públicos para financiar campanhas.
Tudo isso deveu-se a seriedade e independência com que os órgãos sul-africanos lidam com questões nacionais e a postura dos partidos políticos. É que, na África do sul os grandes partidos não perdem tempo para roubar votos e a oposição tem maturidade suficiente para labutar em fainas do género.
Além disso, o que também me admira do vizinho é, a forma como os quadros do ANC tem vindo a gerir o seu partido em várias frentes, particularmente o equilíbrio na escolha de pessoas oriundas de diversas etnias do país para dirigir os destinos da nação, preservando aquilo que o nosso Eduardo Mondlane sempre defendeu: a unidade nacional.
Nelson Mandela, o primeiro presidente negro, bem como o seu sucessor são ambos da etnia Xhosa. Jacob Zuma, o recém-eleito a presidente, provém dos Zulos. E há “profetas” vaticinando a possibilidade dos nossos irmãos Changanas de lá atingirem os píncaros do poder sul-africano a longo prazo. Oxalá que isso aconteça!
E cá entre nós? Quando é que chegará a vez dum makhuwa, chuabu, makonde, towa, yao, nyanja, sena, nyungue, marenge, mayindo, entre outros que completam esta nossa bela diversidade cultural? Ou pensa-se erradamente que nessas etnias não há gente em altura para tal?
Compatriotas, não acham estarmos a monopolizar o mais alto cargo da nação para um certo grupo regional? Quem me garante que os nossos erros, as nossas desavenças no passado e até a guerra civil que sacrificou milhares de nossos irmãos inocentes não tiveram como causa essa predisposição, quem?
Por tanto, peguemos o exemplo da terra, que um dia foi de Pieter Botha, para reflectirmos sobre as nossas questões mais pontuais, sobretudo a nossa ganância e egoísmo exacerbados, assim como, o nosso tribalismo, nepotismo, regionalismo e etnocentrismo crassos.
E, por tudo que seja mais sagrado nesta vida, espero que Deus abençoe Moçambique, inspirando aos seus governantes mais sabedoria e justiça na direcção dos anseios do seu povo, como de antemão fizera para o rei Salomão.
Pensemos nisso, compatriotas!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O MILAGRE DA BLOGOSFERA

Para passar o tempo, vou fazer uma pequena abordagem sobre os blogs, essa ferramenta tecnológica muito importante para as nossas reflexões. Desde já, permito-me perguntar-vos: o que e como seriam as nossas experiências, impressões, opiniões e correspondências sem a blogosfera? Por mim confesso que não faria muito sentido.
O termo blog provém da expressão weblog que foi cunhada em Dezembro de 1997 pelo norte americano Jorn Barger, surge do casamento das palavras inglesas Web (rede) e log (diário ou livro de bordo) o que identifica claramente a sua intenção inicial de ser um mero diário, um repositório de comentários, experiências intímas e de algumas ligações pessoais feitos a partir de assuntos de interesse do próprio autor/editor e disponibilizados em páginas da internet de forma cronológica e datados.
Entre várias vertentes, no mundo da imprensa existem dois tipos de jornalismo, que são o hegemónico e o alternativo. O hegemónico é aquele que costuma chamar-se também por grande imprensa, muitas vezes veicula aquilo que são os interesses de grandes partidos políticos, sistemas ideológicos, está vinculado a indústria cultural.
O jornalismo alternativo é aquele que aborda questões ignoradas e negligenciadas pela grande mídia, são instituições fora do escopo do jornalismo hegemónico.
Os caros leitores podem pensar, por que esta abordagem jornalistica? A razão é simples, é que nos últimos anos a blogosfera está associada ao jornalismo e entre os tipos supracitados está mais ligada ao último, neste caso o alternativo.
Nos blogs postamos as nossas opiniões sem receio de sofrer censura alguma, os nossos pontos de vista não passam por rascunhos desnecessários e infindáveis, não há aquela atitude do tipo tens que rectificar isto porque não vai agradar ao chefe X e/ou ao patrão Y, nos blogs é só opinar e os leitores vêem as partes por acertar.
Aqui os internautas escrevem, exprimem aquilo que lhes vai na alma com liberdadade de expressão, mas sem deixar de lado a ideia de que a nossa liberdade termina onde começa dos outros.
Na blogosfera não há espaço para sentinelas burocratas, publica-se sem olhar as cores partidárias, credos religiosos, questões raciais, tribais e étnicas porque aqui os valores de um Homem não se medem com base nos preconceitos.
Um dos grandes valores dos blogs é a facilidade com que estes, permitem desenvolver um debate com pluralidade de ideias, uma condição muito útil para o amadurecimento intelectual de qualquer homem.
Ora, quantos de nós queremos ver a nossa opinião a circular na grande imprensa, mas por causa de meras questões editoriais, de amizade, de simpatia, até de apelidos vemos as nossas intenções insatisfeitas, ainda bem que as tecnologias não permitem tanta mesquinhez.
Devido a sua vulnerabilidade em relação a questões como estas que acabei de citar, o meu país (Moçambique) precisa de mais blogs.
Em 1848 Marx e Engels disseram: “Proletários de todos países, uni-vos! Hoje 161 anos depois, por um debate pluridimensional e inspirado no mesmo ideal digo:” Bloguistas” de todo mundo, uni-vos!
Então vamos escrever e postar aqui os nossos pontos de vista, pesquisas, artigos científicos e tudo mais porque a blogosfera é um verdadeiro milagre tecnológico que permite um debate de ideias salutar, por isso urge usufruir desta dádiva electrónica.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

TIRANOS BRANCOS SUBSTITUIDOS POR TIRANOS NEGROS???!!!


“...Neste mundo ninguém é bom para ninguém. Enganamo-nos uns aos outros. Tiranos brancos substituidos por tiranos negros é a moral da história... justiça e igualdade é negócio de Deus e não dos homens...”
Paulina Chiziane. “O sétimo Juramento”, Pag.15
De uns anos para cá ganhei o hábito de participar em forúns onde se debatem ideias sobre o dia-a-dia do país e também presto muita atenção no conteúdo dos discursos que os nossos politicos nos bombardeam.
O que noto nisso tudo é que proliferam-se ideias brilhantes que se traduzem em palavras bonitas como igualdade, justiça, paz, solidariedade, fazendo surgir slogans inclusivos como: “Moçambique para todos”, “Juntos por um futuro melhor” ,“A força da Mudança” e outras coisas que pessoalmente perfiro considerar útopias.
Tudo isto é bonito. Porém seria mais bonito ainda se essas concepções fossem verdadeiras ao invés de serem simples conversas para drenar dólares e gastar água mineral, bem como, não passassem de truques para tirar o voto do cidadão incauto que não percebe nada sobre politica.
Os nossos dirigentes defendem o fim da pobreza absoluta, encorrajam o combate a corrupção e todos os males que nos apoquentam, contudo ao virar-mos a esquina descobrimos que são os mais ricos do país, os mais corruptos e os que têm mais posses. Para quem não sabe deve pensar que é um paradoxo.
Mas não é nenhum paradoxo, as coisas funcionam assim. A vida é assim, traduz-se em dizer uma coisa e fazer outra. “... Pois não façam o que eu faço, mas sim o que vos digo” - diz o ditado. Isto significa que nestas coisas é preciso usar mascáras para adaptar-se ao meio, sob pena de ser vitimado por aquilo que C. Darwin chamou por seleção natural.
Engana-se quem pensa que o mundo é um mar de rosas, feito de fraternidade, união e de amor ao próximo. Isto aqui é um campo de luta selvagem onde reina a lei do mais forte, aqui é cada um por si e Deus para todos, por isso salve-se quem puder!
O mundo pertence aos ousados, aos que sabem mentir, aos hipocritas e aldrabões sem vergonha para alcançar o que desejam. Quanto aos pobres, aos orfãos, as viúvas, aos desfavorecidos, e as minorias marginalizadas, esses que se lixem.
E assim os pobres ficam cada vez mais pobres e os ricos sempre a subir. Ensinamos as crianças a odiar os semelhantes e o ódio vai se transmitindo de geração em geração. Parecendo que não, mas hoje em dia está cada vez mais dificil singrar na vida usando meios católicos, querendo ou não, tem que se alinhar em sistemas, caso não é preciso cultivar a arte do lambebotismo.
E depois nos assustamos e reclamamos quando estudos concluem que crianças negras dos Estados Unidos e da África do sul perferem bonecas brancas e loirinhas ao invés de bonecas negras como a sua própria cor.
Por que que reclamamos, achamos que as crianças são tão ingênuas ao ponto de ignorar a dura realidade do mundo em que vivem? A pesar de pequeninas elas sabem da podridão em que o nosso mundo está mergulhado.
A verdade é dura. Mas é esse o mundo que temos e que fazemos. A pergunta que fica é: será esse o mundo que queremos? Espero que não, mas o que apreendo todos dias é o seguinte: O ódio e ganância são nossos instintos naturais, por isso o
jogo entre tiranos a substitirem-se será eterno.
É esta a moral da história para mim também!!
Pensem
nisso!
felixesperanca@gmail.com

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO NEPOTISMO NAS ORGANIZAÇÕES MOÇAMBICANAS

Parecendo que não, mas é um facto, o nepotismo está ganhar terreno nas nossas organizações públicas e privadas, isto é, nos últimos anos está cada vez mais dificil ter emprego numa empresa qualquer deste país se o concorrente não tiver familiares ou amigos na organização que pretende servir.

Qualquer cidadão atento pode notar que as nossas empresas públicas e privadas estão virando clubes de amigos e familiares, onde as portas estão abertas somente para pessoas conhecidas, como: cunhados, vizinhos, netos, afilhados entre outras espécies de parentesco que se pode encontrar por aí.

Os nossos jornais têm sempre anúncios de vagas para emprego nas empresas. Porém, esses supostos anúncios não passam de simples escritos para o “Inglês ver”. Na verdade, as vagas publicitadas vêm já ocupadas, as entrevistas que se fazem servem para brincar com as pessoas ou justificar qualquer cláusula que se calhar a lei prevê.

O cenário é dramático. É dramático sobretudo para o jovem recém graduado que pretende singrar no mercado de trabalho, para mostrar os seus dotes profissionais e materializar os seus conhecimentos científicos, a fim de desenvolver o país, mas não o pode fazer porque é impedido por questões mesquinhas como o nepotismo.

É triste para o estudante que por azar ou sorte do destino deixou a sua província para continuar os seus estudos, contudo, porque é o primeiro e único a sobresair na familia e não tem padrinhos é condenado ao Deus dará até aos últimos dias da sua vida.

A situação fica ainda mais penosa para aquele cidadão anónimo que vive no limiar da pobreza, abaixo de um dólar por dia e mesmo assim continua a sonhar com dias melhores, “anestesiado” com pão e circo que o governo proporiona.

Só que, este mesmo cidadão já começa a ficar farto da palhaçada porque o pão torna-se cada vez mais escasso e o circo começa a perder graça, daí opta pela coisa mais simples que consegue fazer: abster-se das eleições, caso não, vai a procura das soluções mais rápidas e não boas para a sociedade, neste caso, pauta pelo crime, roubo e outras práticas antisociais.

Fica mais díficil ainda para aqueles que, por causa dessa postura das nossas organizações procuram alternativas no comércio informal e nas pequenas indústrias, mas mesmo assim não escapam dos impostos que “diariamente” tem sido criados neste país.

Moçambique é um país pobre e todo mundo sabe muito bem disso. É necessário que se invista mais no capital humano, nas pessoas competentes e dotadas de habilidades e capacidades para operar tecnológias e solucionar as crises que nos enfermam.

Senhoras e senhores não se pode sair da condição de pobreza agindo nesses moldes. Com o nepotismo e clientelismo institucionalizados não se constrói um país próspero, mas sim, um clube de amigos e familiares onde a preguiça e anarquia, os desmandos e os abusos de confiança imperam.

Quando se trata de servir o país, não se devia brincar em serviço. Nestes casos os valores de um homem não devem ser medidos com base nos graus de parentesco, pois é preciso basear-se na competência e na capacidade de solução dos problemas. É assim como funcionam as coisas em países onde reina a disciplina e cultura de trabalho.

Muitas vezes os nossos governantes cantam que, “a juventude é a seiva da nação”. De que juventude se trata? Essa maioria sem horizontes, a qual depois do término de seus estudos não tem tido por onde ir?

Ou referem-se a seus filhos, enteados e afilhados com oportunidades de escolher entre continuar a estudar num país do primeiro mundo, às custas do erário público, ou singrar no mercado de emprego numa dessas grandes empresas da praça com direitos a salários chorudos e regálias infindáveis.

É assim que pretendemos combater a pobreza absoluta no país? Será este, Moçambique para todos do qual Sua excelência o Presidente da República falou na abertura da reunião dos quadros do partido Frelimo a 19 de Abril de 2009?

Estamos a transformar as organizações e consequentemente o país num clube de amigos e familiares. Pensem nisso, compatriotas!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

NIASSA

Em Dezembro de 2008 a Fevereiro de 2009 visitei o Niassa, a província mais extensa de Moçambique.

Por lá, as chuvas são regulares, a terra produz muita comida e recursos minerais, desde o Ouro de Lupilichi até o Rubi de Mavago. As paisagens são belas e atraentes, tipicas para um turismo de primeira categoria.

A fauna, a flora, as águas cristalinas e as praias virgens do lago e reserva do Niassa respectivamente, assim como outros recursos naturais subaproveitados fazem da província uma jóia por facetar.

Porém, “o Niassa está esquecido”, quem o diz são os Massukos, uma banda musical da casa. E, com base naquilo que se pode constatar no terreno, a opinião afigura-se certa, senão vejamos:

O desenvolvimento caminha a passos lentíssimos. As estradas, quase todas são de terra batida e esburacadas. No tempo chuvoso, a situação é pior. A chuva destrói as pontes e picadas. Poucos são os transportadores de passageiros e mercadorias que se arriscam a enfrentar o martírio de escalar Niassa.

O comboio de Cuamba (a segunda maior cidade) para Lichinga (a capital provincial) circula uma ou duas vezes por mês. Não transporta passageiros e dura mais de cinco dias, por causa dos carris tortos, num percurso de aproximadamente 300km.

As infraestruturas são de construção precária. Alguns chefes locais defendem que o dinheiro para erguer obras de qualidade é pouco. Outros denunciam a existência de crónicos esquemas de corrupção, clientelismo e uma falta águda de transparência nos concursos para construção de infraestruturas do Estado. Mas, pelo sim, ou pelo não, a verdade é uma: a situação é triste naquele lugar de Moçambique.

Quanto ao povo, os niassenses são simpáticos, trabalhadores, acolhedores, mas infelizmente continuam a dormir e a sonhar com dias melhores, enquanto se contentam com o ópio de todos os tempos: pão e circo, que o governo habilmente proporciona por via dos jogos de futebol do Moçambola aos domingos.

Em Lichinga, as ruas e avenidas confundem-se com burracos, o dia-a-dia é feito de filas enormissimas nas poucas instituições bancárias que dão na vista. Um certo banco, tão útil para as populações tem uma e única agência com duas ATMs operacionais para toda província.

Nas escolas, alunos do nível pré-universitário estudam em cubículos sem coberturas laterais, o que os submete a todos os riscos possíveis. As salas de aulas albergam mais de 90 alunos sentados no chão. Virou coisa normal ver de segunda a sexta-feira pais e filhos a transportar cadeiras de casa para escola e vice-versa. Aliás Niassa não tem sequer uma escola secundária de raíz, o que pulula por ali são simples conjuntos de salas de aulas improvisadas, visto que o dinheiro para tal, passa para o bando de abutres e corruptos que controlam os cenários no local.
Falta água canalizada, faltam transportes públicos, faltam serviços básicos, além dos preços e o custo de vida elevadíssimos, na capital e em toda província. Porém, os dirigentes políticos insistem que a província está a desenvolver. Ora, tenham peso na consciência!

Entenda-se o seguinte: entre muitas coisas, Niassa vai desenvolver quando em primeiro lugar as vias de comunicação estiverem acessíveis. É urgente a asfaltagem da estrada que liga Nampula e Lichinga é também necessário que a linha fêrrea que une as duas principais cidades esteja operacional.

O crescimento económico da província está também dependente do tipo de dirigentes que norteiam os seus destinos. Faltam dirigentes sérios, com vontade e visão de desenvolvimento, muito diferente da visão destes últimos cujo mandato está terminar.

Nos últimos cinco anos a província teve a pouca sorte de ser dirigida por pessoas “incapazes”. Esses dirigentes, no auge da sua mediocridade tiveram a coragem de devolver fundos aos doadores alegando não haver áreas de aplicação. Esse tipo de governantes deveriam ser escoraçados logo.

Niassa precisa sair da letargia em que se encontra. Para tal é preciso muita seriedade e um trabalho árduo de todos nós. Os dirigentes não devem olhar as províncias como fonte de produção de riqueza pessoal, muito menos para acomodar interresses de conterrâneos, amigos de infância e fomentar o tribalismo segundo denunciaram em 2008 os professores doutores Brazão Mazula e Carlos Machili respectivamente.