quarta-feira, 4 de maio de 2011

Cadeiras do Estádio Nacional

Olá Julia
Bom dia, minha boa amiga. Como vais tu e a tua família? Espero que bem. Do meu lado tudo bem. Embora se possa pensar que o tema não é próprio, numa carta de um cavalheiro a uma senhora, hoje venho falar-te de rabos. Sim, de rabos, seus tamanhos, volumes e pesos.
E tudo isto na base da recente inauguração do Estádio Nacional do Zimpeto. Sobre a pompa e circunstância já outros falaram. Eu volto à questão dos rabos. Segundo li na imprensa, nesta inauguração, mais de uma centena de cadeiras foi partida. Cerca de sessenta das quais na zona VIP.
Ora eu vi fotos das tais cadeiras partidas e, dessas fotos, me parece claro que o problema que existe é a falta de qualidade daquelas cadeiras, presas ao cimento da bancada por uns parafusos de muito duvidosa resistência.
Vais-me perguntar: o que é que isso tem a ver com rabos? E eu respondo-te. Tem tudo. Muito provavelmente aquelas cadeiras, e o seu sistema de fixação, estão preparadas e têm resistência calculada para rabos chineses, pequenos e magrinhos. Para esses, muito provavelmente, elas funcionam bem.
Agora quando elas são sujeitas a suportar os rabos, bem maiores e mais pesados, dos nossos concidadãos, a estrutura já não aguenta, o metal cede e as cadeiras partem. E repara, Júlia, que, das cerca de cem cadeiras  que se partiram, cerca de sessenta foram na zona VIP.
Onde é que tu achas que os rabos são maiores, e mais pesados, senão na zona VIP? Ao princípio tentou-se atribuir as culpas a actos de vandalismo por parte dos espectadores mas será, Júlia, que a principal percentagem de vândalos está nos espectadores VIP? Ao que parece a empresa chinesa de construção comprometeu-se a substituir as cadeiras partidas. Mas eu pergunto: sendo o problema estrutural e não daquelas cem cadeiras em particular, será que a empresa chinesa vai substituir as 42 mil cadeiras ou, pelo menos, todo o sistema de fixação das cadeiras ao cimento, em todo o estádio?
Se o fizer temos obras para muito mais tempo. E para muito mais dinheiro esbanjado. Se não o fizer iremos ficar, gradualmente, sem cadeiras de plástico e com bancadas apenas de cimento, como em todos os outros estádios do país.
De qualquer forma creio que, antes de fazer as reformas, a empresa chinesa faça um estudo profundo sobre os tamanhos e pesos dos rabos moçambicanos. Com análise de casos concretos quer dos cidadãos comuns, quer de alguns rabos VIP, devidamente seleccionados.
Mas as coisas não parecem ficar por aqui. Pessoa que assistiu à inauguração diz-me que são já visíveis rachas no cimento em várias partes do estádio. E há que não esquecer alguns antecedentes. Lembras-te que no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, no Ministério dos Negócios Estrangeiros e no novo Aeroporto de Maputo há duas coisas em comum: terem sido construídos por empresas chinesas e, em todos eles, chover lá dentro.
 O argumento para continuar a usar essas empresas é que trabalham barato e a crédito, mas costuma-se dizer que o barato sai caro e, neste caso das cadeiras, estou com curiosidade de saber qual vai ser o aumento na conta que teremos que pagar.
 Enfim, são os chamados “negócios da China”. Um beijo para ti do
 Escrito por Machado da Graça